Atividade física, dieta saudável e exercícios para o cérebro são aliados contra Alzheimer

Especialista da Clínica de Geriatria do HSPM esclarece dúvidas sobre o tema

Logo do HSPM responde, com uma mão segurando um megafone saindo de dentro de um celular

Por: Thayná Franzo e Rosângela Dias

Conviver com a perda progressiva da memória, principal característica da doença de Alzheimer, é uma tarefa dolorosa para pacientes e familiares. A doença neurodegenerativa não tem cura, mas o acompanhamento médico no estágio inicial ajuda a diminuir a progressão dos sintomas. Nesta edição do HSPM Responde, você pode conferir uma entrevista sobre o assunto com a Dra. Renata F. Nogueira Salles, coordenadora da Clínica de Geriatria do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM).  

O que é a doença de Alzheimer? É sinônimo de demência?
A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e irreversível, sendo a principal causa de demência. Corresponde a 60% de todas as demências. O que muitos chamam de demência senil ou "esclerosado", na verdade é a doença de Alzheimer. Em 2018, eram cerca de 50 milhões de pessoas com demência no mundo, espera-se que em 2030 esse número chegue a 82 milhões.

Todo problema de esquecimento recorrente está ligado à doença?
É importante lembrar que esquecimento não é normal da idade e sempre deverá ser avaliado pelo geriatra. Porém, nem todo esquecimento é demência, quadros de depressão, ansiedade, estresse e sobrecarga de trabalho também podem ser causas de esquecimentos. Quando além do esquecimento, o paciente apresenta prejuízo em outras áreas cognitivas e perda funcional, o diagnóstico de Alzheimer deve ser suspeitado.

Por que o problema é mais comum entre os idosos?
A prevalência da doença de Alzheimer aumenta com o avançar da idade. Aos 65 anos, cerca de 2% da população pode desenvolver a doença e essa prevalência dobra a cada cinco anos, sendo que partir dos 85 anos de idade, a cada três idosos, um apresenta a doença. Portanto, a idade é o principal fator de risco. Outros fatores de risco são: baixa escolaridade, traumatismo craniano, síndrome de Down, presença da apolipoproteína E4 e a presença de fatores de risco cerebrovascular, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, resistência insulínica. A história familiar também é um importante fator de risco, aumentando o risco em quatro vezes mais de se ter a doença.

É uma doença genética?
Cerca de 95% dos casos são considerados esporádicos, isto é, qualquer pessoa pode apresentar a doença. Somente 5% são geneticamente transmitidos, principalmente por meio da mutação dos genes da presenilina 1, presenilina 2 e da proteína precursora do amiloide.

Quais os principais sintomas e estágios da doença?
A doença pode ser dividida em três estágios: fase leve, moderada e grave. Na fase leve, o paciente apresenta esquecimentos leves (esquece onde guarda os objetos, nome de pessoas, datas), desorientação no tempo ou no espaço, perseveração (fica repetitivo), apresenta prejuízo nas atividades instrumentais da vida diária, como utilizar meio de transporte, lidar com as finanças, tomar os próprios medicamentos, cuidar da casa, e pode também apresentar depressão e ansiedade.

Na fase moderada há aumento da perda de memória, dificuldade de reconhecimento de familiares, alteração na linguagem e pensamento, perda de crítica e pode também apresentar alterações de comportamento (apatia, agitação, perambulação, alucinações). Nessa fase o paciente se torna mais dependente dos familiares e necessita de supervisão constante.

Já na fase grave, o paciente se torna totalmente dependente para o autocuidado, necessitando de ajuda para banho, vestir-se, continência, transferência e alimentação. Pode evoluir para imobilidade e mutismo.

Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, através da história de déficit de memória (esquecimento progressivo) e de prejuízo em pelo menos outra função cognitiva (atenção, orientação, praxia, linguagem, função executiva) documentado por baixo desempenho em testes cognitivos. Exames de neuroimagem estrutural (tomografia ou ressonância magnética de crânio) e exames laboratoriais (vitamina B12, ácido fólico, sorologias, hormônio tireoidiano, cálcio) são solicitados para o diagnóstico diferencial de outras causas de demência.

Alguns biomarcadores podem corroborar o diagnóstico clínico da demência de Alzheimer, como exames de neuroimagem funcional (PET e SPECT), PET com contraste (Pittsburg-Compound-B), marcador cerebral de proteína beta-amiloide, e líquor para dosagem de proteína beta-amilóide e tau; porém, ainda não são utilizados na prática clínica. Diagnóstico definitivo não é feito em vida e seria somente através do exame neuropatológico com a identificação das lesões típicas da doença de Alzheimer, as placas senis (depósito de substância beta-amiloide) e os emaranhados neurofibrilares (hiperfosforilação da proteína tau).

Como é o tratamento? Há cura ou possibilidade de parar a evolução dos sintomas?
O tratamento é sintomático, não modificador do curso da doença, portanto não é cura, mas deve ser instituído o mais precocemente possível para evitar a sua progressão. Tem benefício não só na cognição, mas também no comportamento e na manutenção da funcionalidade.

Duas medicações apresentam nível A de evidência científica: os inibidores da acetilcolinesterase (rivastigmina, donepezila e galantamina), que aumentam a disponibilidade da acetilcolina, principal neurotransmissor envolvido na memória e que se encontra diminuído em função da morte neuronal desencadeada pelo processo inflamatório e excitotoxicidade promovido pelas lesões neuropatológicas da doença; outro é a memantina, que é um antagonista dos receptores de NMDA (glutamato). Também podem ser utilizados como adjuvantes do tratamento os antidepressivos, neurolépticos e estabilizadores do humor.

Existem hábitos que podem ajudar a desacelerar a doença?
Além dos medicamentos, a terapia não farmacológica tem papel importante para evitar a progressão da doença. É fundamental a participação da equipe interdisciplinar, através de atividades de reabilitação neuropsicológica, terapia ocupacional, musicoterapia, arteterapia, atividade física. Os familiares devem receber orientações e ter apoio da equipe de saúde, e o paciente precisa manter uma rotina diária, receber cuidados e viver em ambiente calmo e tranquilo.

Existe prevenção?
Para prevenir a doença se recomenda: fazer a prevenção dos fatores de risco cerebrovascular e controlar doenças como a hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus, obesidade; fazer atividade física; manter uma dieta saudável, rica em legumes, peixes, frutas e azeite; exercitar o cérebro com leituras, cursos, novas aprendizagens e lazer; manter uma vida social ativa, conhecer pessoas, conviver e se comunicar.

Foto da médica do hospital, na sacada de uma janela que tem o hspm como fundo.
Dra. Renata F. Nogueira Salles é coordenadora da Clínica de Geriatria do HSPM.