Arteterapia, comunicação não-violenta e criatividade

Curso na UMAPAZ com encontros quinzenais desafia os alunos a lidarem com o desconhecido e a trazerem sua individualidade para o grupo

O primeiro módulo do curso de Arteterapia e Comunicação Não-violenta, facilitado pela educadora Marina De Martino Roberto e coordenado por Cerise Goldman Batistic, utiliza a Arte como forma de acessar questões de Comunicação e Relacionamento. Assim, a partir de exercícios de reflexão, utiliza-se a expressão não verbal para concretizar conteúdos que se encontram no campo do inconsciente, favorecendo insights sobre o tema.

Este módulo foi planejado para ocorrer em quatro aulas quinzenais e traz conceitos da Psicologia Junguiana de Comunicação Não-violenta. Cada encontro é dedicado a uma das 4 funções da consciência, conforme propõe a teoria Junguiana. São elas: sensação (representada pelo elemento terra), sentimento (elemento água), intuição (fogo) e pensamento (ar).

No primeiro encontro, foi explorada a função sensação por meio de atividades tridimensionais, utilizou-se materiais coletados do jardim da UMAPAZ, operando o elemento terra e estimulando o contato e a afetividade com a natureza. Enquanto nesta última terça-feira, dia 23 de abril, foi explorada a função sentimento, operando o elemento água, por meio de materiais fluídos, como a tinta.

Na roda de conversa inicial, a curiosidade era geral e todos os participantes estavam interessados. O caminhar da aula foi conduzido de forma leve e subliminar, sendo importante o processo de criação e não o produto final .

Antes da primeira atividade de arte começar, foi feita uma ciranda para relaxar e despertar a criança interior de cada um. Depois, folhas A4 foram distribuídas às pessoas, instruídas a escolherem 3 cores diferentes de tinta, pingá-las no papel sem o pincel e depois fecharem os olhos. Marina foi, então, passando de folha em folha, cobrindo-as com um plástico fino, e depois pediu que, ainda de olhos fechados, passassem as mãos por cima do material.

Sensações foram despertadas soltando emoções, imaginações e os sentimentos de cada um. A sensação individual de cada um foi compartilhada em grupo e relatou-se: “fluidez”, “contenção”, “bloqueio”, “delícia” e “satisfação”. Houve algumas lembranças de vivências pessoais que vieram à tona.

Papel e plástico (positivo e negativo).

A próxima atividade foi a pintura de uma mandala coletiva com tinta guache, confeccionada em silêncio. Essa proposta desperta questões sobre a integração entre a individualidade e o coletivo, sobre a comparação, o pertencimento, os limites e a autoestima, incentivando os participantes a conversarem sobre o que é colaboração, interferência ou invasão, como elaborar expectativas, lidar com sentimentos de controle ou submissão e como se posicionar em grupo.

Mandalas coletivas.

Ao final do encontro, cada participante pode expressar sensações e sentimentos próprios em relação às duas atividades, criando um momento muito rico em trocas de experiências e afetos. Marinaterminou o encontro lendo um pequeno texto de Rubem Alves sobre ditos de Alberto Caeiro (homônimo de Fernando Pessoa), que lutava contra àquilo que os desejos dos outros – pais, avós, professores, padres, pastores – fizeram de nós:

“Procuro despir-me do que aprendi.

Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,

e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,

Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.

Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,

mas um animal humano que a natureza produziu.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),

isso exige um estudo profundo,

uma aprendizagem de desaprender...”.