São Paulo realiza amanhã lançamento simbólico de Memorial sobre os Crimes de Maio

Ato relembra a chacina de maio de 2006 e cobra justiça e reparação às vítimas

Débora da Silva, fundadora do Mães de Maio. Foto: Olívia SouLaba

O lançamento simbólico nesta quinta-feira (12/5) do Memorial dos Crimes de Maio, no Centro Cultural do Jabaquara, e a apresentação, na sexta-feira, da “Carta das mães em luta pelo nascimento de uma nova sociedade igualitária, justa, livre e pacífica” marcam os 10 anos de impunidade dos chamados Crimes de Maio.

As ações, organizadas pelo movimento Mães de Maio, contam com apoio da Prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias municipais de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e de Cultura (SMC). Segundo Débora Silva, uma das fundadoras do movimento, a construção do memorial no quilombo do Jabaquara é uma forma de dizer que a reparação não foi feita. “A marcha fúnebre prossegue no nosso país, principalmente na nossa periferia, que é um pouco da senzala”, afirma enfática.

De hoje (11) à próxima sexta-feira (13), acontece também o 1º Encontro Internacional de Mães e Familiares de Vítimas do Estado Democrático, com o tema “Justiça, Reparações e Revolução”. O objetivo do encontro é reunir familiares e amigos de vítimas da violência de Estado para discutir e organizar lutas em comum para enfrentar a violência contra a população negra, indígena, pobre e periférica.

Na sexta-feira, a partir das 9h e até o início da noite, diversas organizações e movimentos se reúnem na plenária final do encontro, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, para elaborar coletivamente a “Carta das mães em luta pelo nascimento de uma nova sociedade igualitária, justa, livre e pacífica”.

Crimes de Maio, maior chacina da história contemporânea
Crimes de Maio, ocorridos em maio de 2006, é como ficou conhecida a maior chacina praticada por agentes do Estado na história contemporânea do Brasil e uma das histórias de violência mais brutais conhecidas em todo o mundo. Foram dias em que São Paulo, capital e Estado, pararam em meio a uma guerra.

Os confrontos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e as forças policiais começaram no dia 12 de maio de 2006, após a transferência de 765 presos -incluindo membros do PCC - para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.

Nos cinco dias seguintes, registraram-se mais de 300 atentados contra delegacias, postos de polícia, presídios e prédios públicos. Nos presídios, eclodiram mais de 80 rebeliões em apenas três dias, com centenas de reféns. A partir daí, deflagrou-se um confronto que vitimou pelo menos 564 pessoas no estado de São Paulo, no período de duas semanas.

De acordo com o estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), de 2009, coordenado pelo sociólogo Ignácio Cano, os ataques vitimaram 59 agentes públicos, ao todo. Dos 505 civis mortos, a maioria em áreas pobres das periferias, 118 foram assassinados em confronto com a polícia, 50 foram vítimas de execução sumária individual, 35 de execução sumária por grupo não encapuzado, 53 por grupo encapuzado, 4 foram executados sumariamente por policiais, 10 morreram em ataques a delegacias, 6 em conflitos interindividual, 2 em acidente ou bala perdida, 21 por “outros motivos” e 206 por razões desconhecidas. Estudos posteriores apontam para mais de 600 mortes.

Para Débora, do Mães de Maio, “falar em números não dá a dimensão”. Segundo ela, dois anos após os crimes a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo falava em 493 mortos. Depois de três anos, o número apresentado subiu para 532. Agora já se sabe que pelo menos 564 pessoas morreram. Passados 10 anos, os responsáveis não foram punidos e a chacina permanece na invisibilidade.