Juventude: do que estamos falando?

19/05/2005 - Juventude


As discussões sobre juventude são muitas, todo mundo tem uma opinião sobre o que é o/a jovem, seus problemas, suas características, sobre o que deveria ou não ser feito com essa população. O que poucas pessoas sabem é que juventude é também um tema de estudo como muitos outros, debatido, pesquisado nas universidades, avaliado, objeto de estatísticas, assim, como economia, trabalho, direito, relações de gênero etc.

Mas porque estamos falando isso? Para mostrar que quando nos propomos a trabalhar com políticas públicas de juventude, um dos grandes desafios que temos é mostrar para boa parte da população que por mais que todos tenhamos muito a pensar e dizer sobre os/as jovens, existe também muito conhecimento produzido e acumulado, para além do senso comum, que pode muitas vezes nos surpreender no nosso entendimento sobre juventude, e que esse conhecimento pode e deve nos ajudar à construir os projetos, os programas e políticas de juventude.

Vejamos: Você sabia que existe uma faixa etária para considerar uma pessoa como jovem? Sabia ainda que jovem é diferente de criança e de adolescente?

O primeiro grande desafio que observamos no dia-a-dia está diretamente ligado a compreensão das respostas dessas perguntas. O entendimento em geral das pessoas é de que jovem e adolescente é a mesma coisa. O ECA - Estatuto da Criança e Adolescente - define o adolescente entre 12 e 18 anos, diferente da faixa etária que define jovem, onde a ONU considera jovem a população entre 15 e 24 anos e a União Européia entre 15 e 29 anos (corrente a qual nos filiamos, sendo ainda que privilegiamos as ações com jovens a partir dos 18 anos).

E por que isso é importante? Porque quando entendemos que o momento de vida de uma pessoa que tem 12, 13 ou 14 anos é totalmente diferente de uma outra pessoa que tem 25, 26 ou 27 anos, estamos obrigados a pensar em ações e projetos específicos para essa faixa etária, com suas peculiaridades e necessidades, distintas das ações pautadas pela proteção integral e tutela que observam os projetos voltados à criança e ao adolescente.

O que é então diferente nesse momento de vida? Quais são as peculiaridades da juventude? Entendemos que essa fase é a da construção das referências que determinam as escolhas dos/das jovens para entrar no mundo adulto (com quem vou me casar, que profissão vou ter, onde quero morar, que gosto cultural é o meu, entre muitos outros exemplos) e é também o momento em que se desenvolve a autonomia necessária para entrar no mundo adulto. Por isso, entendemos que ações pensadas para esta população devem sempre se preocupar em por um lado estender o repertório dos/das jovens, garantindo assim que as escolhas possam ser feitas, e por outro, proporcionar experiências concretas de autonomia (financeira, de decisão, de liderança, de participação etc).

A grande diferença então está na compreensão de que o jovem não deve ser tutelado, conscientizado, catequizado, e sim, proporcionar a ele e a ela acionar um leque de informações que lhes garanta condições de agir no mundo pelas suas escolhas. Muitas vezes ao defender essa compreensão, outras gerações tendem a acreditar que os/as jovens "vão fazer o que quiser”, que os adultos vão perder o controle da situação, que devemos manter a juventude sobre proteção e administração cotidiana. A nossa vontade, é mostrar que a juventude também tem direito e pode ter condições - se nós as garantirmos - de dizer como deve ser o mundo, de dizer como imaginam as soluções para os problemas, de pensar projetos, de emitir opiniões, até por isso ser uma grande contribuição que essas pessoas podem dar. Uma grande qualidade das pessoas que estão nessa faixa etária é a abertura para pensar, a criatividade, a flexibilidade, o rápido processamento de informações, e é por isso que queremos criar condições para desenvolver essas características e soma-las as das outras gerações.

Vale ainda dizer no mesmo sentido, que se não proporcionarmos essas experiências de escolha e autonomia, certamente estaremos criando uma geração que nunca experimentou decidir, nunca se deparou com o desafio de pensar problemas e soluções, nunca se sentiu objeto de confiança, habilidades essas, essenciais para uma sociedade saudável e eficiente.

Por fim, resta pontuar que a população jovem hoje certamente é quem mais demanda por políticas públicas específicas, já que as mazelas sociais se agravam exatamente nessa faixa etária - desemprego, violência, doenças sexualmente transmissíveis - e não porque a juventude é o problema da sociedade, como geralmente trata-se essa população ao falar dessas questões, mas sim pela escassez de políticas públicas voltadas para esse segmento na perspectiva pontuada anteriormente. Os projetos para os jovens não devem acontecer porque temos que ocupar o tempo do jovem, preencher sua cabeça, tirar do crime e das drogas, devem acontecer porque são direitos dessa população ter políticas de saúde, empregos, educação, cultura, segurança etc, condições essas que poderão garantir aos jovens uma vida mais digna do que a que vem sendo recorrentemente oferecida ou esquecida sobre ele/ela.

É então baseado nesse entendimento que pretendemos trabalhar na Coordenadoria da Juventude da Prefeitura de São Paulo, e assim também mostrar que isso não faz com que se instale o caos social. Acreditamos que trazendo luz a esses pontos no momento de pensar as políticas e não somente o enfoque problemático geralmente dado aos/às jovens, estaremos contribuindo decisivamente para uma outra cidade.