Tratamento da obesidade amplia a expectativa de vida em 20 anos

Por ser complexa e multifatorial, a doença não deve ser interpretada como uma escolha do paciente.

Por Luísa Carvalho

Imagem ilustrativa na qual aparece à esquerda um holofote dentro de um celular e à direita o Texto HSPM Responde

No dia 4 de março é lembrado o Dia Mundial da Obesidade e a data tem como objetivo conscientizar sobre a doença, levar informações à sociedade e buscar por apoio de políticas públicas para o melhor atendimento e tratamento dos pacientes.
A obesidade é a doença que mais cresceu nos últimos 20 anos, acometendo mais de um (1) bilhão de pessoas no mundo.

Com o tema “Vamos falar sobre obesidade...” a campanha de 2024 visa estimular uma conversa entre as diversas especialidades, podendo ser incluídos inúmeros temas como: “Obesidade e Diabetes”, “Obesidade e Câncer”, “Obesidade e Saúde Mental”.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Antônio Carlos Valezi, informa que o Brasil é hoje um dos países com a mais alta taxa de pessoas com obesidade no mundo, com mais de 3 milhões de pacientes nos graus de obesidade 2 e 3. Somado a isso, está o baixo acesso ao tratamento. No Brasil, dos 7.700 hospitais, somente 98 estão credenciados para realizar a cirurgia bariátrica pelo sistema público.

Entrevistamos a Dra. Fabiana Franca Tornincasa, Coordenadora do Centro Cirúrgico e do Grupo de Obesidade do HSPM, que pontuou a necessidade de ampliar o acesso dos pacientes à cirurgia: “Apesar de 20% da população estar obesa, somente 1% dos pacientes têm acesso à cirurgia bariátrica. É importante encorajar o portador de obesidade à procurar tratamento e não estigmatizar a obesidade.”

1. Como é feito o diagnóstico para a obesidade?
O diagnóstico é realizado por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). As pessoas com o IMC acima de 30 estão obesas. Já aquelas que estão com o IMC acima de 35 estão nos graus dois e três, que são os índices para a obesidade grave.

2. Quais são as maiores causas da doença?
A obesidade é uma doença crônica multifatorial, estando relacionada à predisposição genética, a hábitos alimentares desregrados, ao sedentarismo e à ansiedade.

3. Há diferenças no diagnóstico entre a obesidade infantil e a adulta?
Não. O que difere é a assistência inicial das crianças, que são acompanhadas inicialmente pelo médico pediatra. A obesidade infantil vem crescendo a índices assustadores e a sociedade de pediatria está preocupada pois, caso não seja tomada nenhuma iniciativa, estima-se que em 2030 serão 254 milhões de crianças e adolescentes obesos e, neste ranking, a perspectiva é que o Brasil ocupe o quinto lugar.

4. Como é o tratamento?
O tratamento pode ser medicamentoso, cirúrgico e endoscópico, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por nutricionista, psicólogo e endocrinologista.

5. Quais doenças ou alterações metabólicas estão associadas à obesidade?
Pressão alta, diabetes, colesterol, triglicérides, apneia do sono, gordura no fígado, doença do refluxo gastroesofágico, depressão, transtorno de ansiedade, artrose (quadril e joelhos), dores articulares, aumento o risco cardiovascular e da ocorrência do Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de infarto. Por se tratar de uma doença complexa e multifatorial, não deve ser interpretada como uma escolha do paciente.

6. Quais são as consequências para a saúde do paciente, caso a doença não seja tratada?
As doenças vão evoluindo, aumentando o risco cardiovascular e de morte prematura. A pressão alta e o diabetes fazem os pacientes terem problemas renais, que levam à necessidade de realizar hemodiálise; e problemas de visão, que podem levar à cegueira. A obesidade grave reduz a expectativa de vida do paciente em 20 anos.

7. No HSPM existe um Grupo para o cuidado dos pacientes obesos. Poderia explicar como funciona a dinâmica deste grupo?
No HSPM existem dois grupos voltados ao tratamento do paciente com obesidade: o grupo para perda de peso, que é acompanhado por endocrinologistas e é mais voltado ao tratamento clínico e medicamentoso do paciente; e o grupo de preparo dos pacientes para a cirurgia bariátrica, indicado após a falência do tratamento clínico. Este grupo é formado por profissionais das áreas de Cirurgia Bariátrica, Psicologia, Nutrição, Fonoaudiologia e Fisioterapia. O trabalho envolve palestras informativas e consultas individuais, que preparam o paciente para o tratamento cirúrgico e os ajudam na mudança do estilo de vida antes da cirurgia, o que leva a melhores resultados a longo prazo. A equipe reúne-se mensalmente para entender e acompanhar os casos de cada paciente. O Hospital do Servidor Público Municipal realizou a cirurgia bariátrica em 60 pacientes portadores de obesidade em 2023.