Discurso do Gilberto Kassab

Prefeito de São Paulo fala das conquistas e desafios da cidade no C40

Bom Dia! Muito bom dia!

Agradeço a presença de todos à IV Cúpula de Prefeitos C40.

É um privilégio receber autoridades reconhecidas mundialmente, como o presidente Clinton, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellik.

São Paulo sente-se honrada em ser a primeira cidade do hemisfério Sul a sediar este evento – um encontro de trabalho de prefeitos de grandes cidades do mundo.

É também com alegria que destaco a presença de prefeitos de cidades brasileiras e latino-americanas, todos unidos, num esforço global, criativo e perseverante, para minimizar os efeitos das mudanças climáticas.

Estamos aqui para aprender com humildade e dividir com espírito público experiências desenvolvidas nas nossas cidades.

E é dessa maneira, com esforço global, com diálogo e cooperação, que poderemos criar ações sólidas e integradas para aperfeiçoar políticas cada vez mais abrangentes e eficazes. Essa é nossa tarefa e nosso dever.

Enquanto os governos nacionais não chegam a um consenso sobre o novo regime internacional do clima, nós prefeitos, governantes locais, estamos desafiados a fazer a nossa parte. A trabalhar duro para assegurar o desenvolvimento sustentável e o bem estar de uma população urbana que a ONU calcula em 5 bilhões para 2030.

É isso mesmo: em 20 anos, 60% das pessoas viverão em cidades! E como elas vão viver em 2030 depende muito de nós, do trabalho que desenvolvemos hoje nas nossas cidades.

Não há tempo a perder. É nas cidades que administramos que os problemas se materializam. O enfrentamento dessa luta começa no nosso quintal, nas nossas indústrias, nos nossos bairros, nas nossas casas. É aí que está o lixo, que estão os resíduos, a poluição, o déficit de saneamento, o racionamento de água, as carências de transporte e os graves problemas sociais.

Sabemos disso, enfrentamos tudo isso no nosso dia a dia.

Não há mais retórica e nem argumentos, meus amigos, para adiar as soluções desses problemas. Precisamos encontrá-las, de braços dados com as forças vivas da sociedade.

Além de trabalhar duro, temos de levantar nossa voz, e a tal volume, que sensibilizemos nossos governantes maiores que se reunirão nas próximas convenções da ONU sobre mudanças climáticas: A COP-17, em Durban, África do Sul; e a Rio+20, no Rio de Janeiro. Não é mais possível sustentar, nem repetir as vacilações de Kioto.

Uso este fórum para fazer esta reclamação, pois a C40 cada vez mais se consolida como uma rede global capaz de reunir grandes metrópoles de países desenvolvidos e também dos países em desenvolvimento.

Michael Bloomberg, que assumiu a presidência em novembro de 2010, renovou a C40. Intensificou os entendimentos com a Fundação Clinton e estruturou uma equipe técnica extremamente competente e comprometida.

Destaco também a grande contribuição do presidente do Banco Mundial, Robert Zoelik, que veio a São Paulo formalizar um Memorando de Entendimento com a rede C40, para possibilitar maior acesso das nossas metrópoles aos fundos para projetos e a interação com especialistas no banco.

A C40, meus amigos, se consolida, a cada encontro, como ator global nas discussões sobre o clima. Somos, todos nós aqui, legítimos protagonistas desses debates pela dimensão dos problemas que enfrentamos, pela necessidade urgente que temos de novas políticas e urgentes definições mundiais.

São Paulo ultrapassa os 11 milhões de habitantes, nossa população cresceu quase 5 vezes entre 1950 e 2010. Industrialização, oferta de empregos, fluxos migratórios, crescimento incontrolável... Hoje temos mais de 3 milhões de habitantes em assentamentos precários, sobrecarga no sistema de transporte, demandas crescentes de água, energia, saneamento.

Os efeitos do aquecimento global castigam forte, principalmente a população mais vulnerável. A que mora distante dos locais de trabalho, a que perde tempo no trânsito e acaba com o tempo reduzido para capacitação e requalificação profissional, e também para atividades de lazer. A que sofre nas filas da saúde e com a falta de segurança.

Os desafios na área ambiental são evidentes: poluição de 24 milhões de viagens diárias, das quais um terço é feito por veículos particulares: ação das chuvas, riscos de desabamento, córregos que transbordam.

Temos trabalhado muito nas frentes possíveis. Mas há muito trabalho a fazer, décadas de descuidos de planejamento e crescimento desordenado ainda a enfrentar e superar.

Implantamos a inspeção veicular, que diminuiu a poluição; temos a cidade limpa sem poluição visual; fizemos a captura do metano nos aterros sanitários; começamos a implantar a nova frota de ônibus a etanol; ampliamos, desde 2005, de 13 para 15 milhões de metros quadrados nossas áreas verdes; colaboramos com o estado investindo no metrô; em parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado, a Sabesp, fizemos um programa que despoluiu 100 córregos; chegamos a 200 km de vias com prioridade para ônibus; temos 1,2 mil linhas de ônibus que utilizam 15 mil veículos, desde microônibus até biarticulados.

Atacamos o problema das favelas, urbanizando 20 comunidades e temos 12 outras em obras – já entregamos mais de 5 mil moradias. Serão beneficiadas 83 mil famílias.

Vejo a alegria do dever cumprido no olhar da minha equipe quando fiscalizamos essas obras... e percebo também o sentimento de frustração de não poder fazer mais na velocidade necessária, pois megalópoles têm – como vocês prefeitos aqui sabem – problemas gigantescos. Às vezes volto para casa esmagado pela perspectiva de impossibilidades a enfrentar no dia seguinte. Mas novamente vamos à luta!

Como vocês todos aqui, matando um leão a cada dia! Consciente dos problemas a resolver, a Prefeitura de São Paulo tem se aplicado e esta propondo uma nova forma de enfrentar as mudanças climáticas com um modelo denominado “cidade-compacta”.

A redução do período de deslocamento e o saneamento do déficit habitacional demandam uma solução integrada. Não basta apenas incentivar o aumento da qualidade e do uso de transporte coletivo, é necessário também harmonizar a melhoria da infraestrutura pública e dos serviços prestados à população, com políticas de planejamento urbano e desenvolvimento sustentável.

A indução da economia verde e da criação de empregos na periferia está diretamente relacionada a esta visão.

Dentro dessa estratégia de ação, a presidência do Comitê de Mudanças Climáticas e Ecoeconomia é exercida pelo Secretário de Desenvolvimento Urbano.

A Secretária do Verde e Meio Ambiente exerce a Secretaria-Executiva do órgão – que conta ainda com representantes de mais de 8 secretarias municipais, uma secretaria estadual e dez entidades da Sociedade Civil.

Este comitê organiza discussões sobre políticas para a área climática de forma democrática, com a participação entre diversos atores do setor publico e da sociedade civil. Essa interação tem produzido medidas objetivas e equilibradas.

Uma prova concreta disso é o objetivo que tenho a honra de lançar aqui hoje, fruto do trabalho incansável deste comitê: as diretrizes para o plano da cidade de São Paulo para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas é um documento que trata das questões do transporte, energia, construções sustentáveis, uso do solo, resíduos urbanos, saúde, educação para o desenvolvimento sustentável, e também dos mecanismos econômicos e financeiros, reforçando a abordagem da gestão e do planejamento urbano no contexto “Clima - Consciente”.

Senhores, nossa experiência – de São Paulo e de todas as metrópoles aqui representadas – mostra que não basta reuniões, planos e boa vontade: é preciso coragem para implementar as decisões.

É necessário muitas vezes contrariar grandes interesses. Enfrentar uma mídia crítica, perseverante, que democraticamente ouve a sociedade, que reabre assuntos e fiscaliza com vigor. É preciso, meus amigos, muitas vezes, ter a humildade de engatar uma marcha-à-ré, rever projetos e soluções, recuar: é assim também que se constroem consensos.

Num regime federativo – com interfaces entre municípios-estados e união ainda a aperfeiçoar – não é correto apenas apontar o dedo, governar como se o empate eleitoreiro não tivesse passado.

Num regime federativo, é preciso humildade para reivindicar seriedade para fazer projetos, e esperar a grandeza da mão estendida com os recursos pleiteados. O bem comum da coletividade é objetivo maior dos homens públicos, seja na busca de recursos nacionais ou internacionais.

Eu confio que é com esse espírito e dentro desse clima de encontro, que nos próximos 3 dias vamos dialogar, trocar experiências e dar mais alguns passos na construção de cidades sustentáveis, mais saudáveis, mais humanas e mais felizes.

Declaro aberto os trabalhos da IV Cúpula de Prefeitos da C40.

Que Deus nos ilumine e bom trabalho a todos!