Sessão do Cine Direitos Humanos debate afetos, cuidados e políticas para infância

Com sala cheia, exibição gratuita do filme "O começo da vida" contou com debate com os realizadores

O afeto é o laço que torna inseparáveis as sinapses (contatos e conexões entre as células nervosas humanas). As respostas dadas no cérebro de um bebê quando ele recebe novas informações são extraordinárias: naquele momento, milhares de novas conexões são formadas, mas somente o afeto pode torná-las indestrutíveis.

“O Começo da Vida” é assim. Exibido no último sábado (7/5), no Cine Direitos Humanos, o filme parte de constatações científicas, e as ilumina com afetos e emoções capazes de transformar nossa visão sobre a primeira infância.

O longa estreou na última semana em circuito nacional e tem diversas exibições gratuitas na capital paulista, com foco em educadores, agentes de saúde, conselheiros tutelares e famílias. As sessões são promovidas pela São Paulo Carinhosa em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e com o circuito Spcine.

A sessão de sábado, no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca, foi encerrada com um debate entre a coordenadora da São Paulo Carinhosa, Ana Estela Haddad, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Felipe de Paula, e Marcos Nisti, CEO do Instituto Alana, uma das organizações responsáveis pela produção do filme.

Da esq. para dir.: Felipe de Paula (SMDHC), Francisco Cesar Filho (Cine Direitos Humanos), Ana Estela Haddad (São Paulo Carinhosa) e Marcos Nisti (Instituto Alana)

Mais do que produzir um documentário sobre os primeiros anos da vida de uma criança, a diretora Estela Renner buscou algo que pudesse estimular um movimento pela primeira infância e, ao mesmo tempo, servir de referência na elaboração de políticas públicas nesta área.

“Numa cidade como São Paulo é difícil pensar em temas relacionados à primeira infância. Temos isso em mente, mas temos a consciência de que ela é o eixo estruturador de todas as políticas públicas de base”, disse o secretário Felipe de Paula. Para ele políticas geracionais específicas não apenas são necessárias para a redução de danos futuros, como também se mostram mais inteligentes economicamente.

Promover políticas para o desenvolvimento pleno da criança é uma das missões da São Paulo Carinhosa. A coordenadora do programa, a primeira dama Ana Estela Haddad, defendeu que o olhar da criança precisa ser levado em conta no planejamento de uma cidade.

Dirigente do Instituto Alana, Marcos Nisti, reforçou essa linha ao acentuar que o poder público precisa se envolver na elaboração e execução dessas políticas em toda a sua extensão. “Nenhuma política pública funciona isoladamente. Precisamos atingir desde o secretário de políticas para a criança e o adolescente até o secretário de obras”, insistiu Nisti. Durante a conversa ele contou também que a pesquisa para o documentário deu origem também à edição de cartilhas com conteúdos sobre a primeira infância, que têm a gestão pública como foco.

Segundo um dos pesquisadores entrevistados pelo filme, o nobel de Economia James Heckman, os programas de primeira infância diminuem drasticamente a criminalidade. Na mesma linha, a juíza de Direito da Coordenação de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, Dora Martins - que acompanhou a sessão - “os jovens infratores ainda são vistos como algo a ser discriminado”. Para ela, é preciso discutir o acesso às políticas públicas e “ter um olhar solidário para o adolescente infrator que não teve este acesso”.

"O Começo da Vida" volta a ser exibido no Cine Direitos Humanos nesta quarta-feira (11/5), no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. Saiba mais.