Livros são recortes da nova exposição de Thiago Honório na Biblioteca Mário de Andrade

Lilia Schwarcz é curadora da exposição que demorou 20 anos para ser feita; “Leituras” ficará disponível entre março a junho deste ano.

 

Agora, na Biblioteca Mário de Andrade, maior biblioteca pública de São Paulo, é possível achar livros além do convencional: desde um livro perfurado por um punhal ou por uma flor, atravessado por um Pau-Brasil a um livro abrigando um estojo de balas de fogo ou até livre das convenções de encadernamento, numeração e sequência. Isso é possível pela exposição “Leituras”, com obras do artista Thiago Honório sob um recorte de 18 trabalhos feitos por ele durante um período de 20 anos de sua vida, selecionados pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz. A produção artística fica do dia 23 de março ao dia 16 de junho, inclusive ocupando as ruas do centro e a fachada do espaço.

 

A escolha do lugar não foi mera coincidência: Mário aparece em nove trabalhos que o artista fez à exposição e se alinham aos ideais de educação pública pela arte e pela literatura. Localizada no centro de São Paulo, muitas pessoas que frequentam a biblioteca podem se deparar com as obras feitas da matéria dos livros, que facilmente se encaixam no espaço sem se impor. 

 

“A Biblioteca Mário de Andrade é um lugar de pausa, de reflexão; um lugar de leitura. Então abrir uma mostra chamada ‘Leituras’, que explora o livro como objeto de arte e objeto literário, é muito icônico. A exposição é muito delicada e convida o visitante a uma introspecção”, conta Lilia Schwarcz.

 

Thiago Honório tem um histórico de trabalhos artísticos em que aparecem escritores e artistas do modernismo brasileiro. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Flávio de Carvalho e Manuel Bandeira, por exemplo, estão presentes tanto na exposição “Leituras” quanto no acervo da biblioteca. 

 

“Sempre me interessou olhar para essa produção num momento que foi super importante para minha formação, em 1998, que foi a 24° Bienal de São Paulo - Bienal da Antropofagia”, explica Thiago. “Mostrar essas obras a partir de algo revela não somente a dimensão celebratória dessas produções, mas também aquilo que elas carregam de contradições e tensões no presente. Daí meu interesse”, finaliza.

 

As obras escolhidas podem ser vistas como uma homenagem aos livros, à biblioteca e ao próprio Mário de Andrade, cujo trabalho textual é lembrado na exposição. Porém, foram escolhidas, de fato, por serem trabalhos com a matéria prima voltada ao livro, baseado em um arco temporal de 20 anos de carreira de Thiago Honório. 

 

Lilia Schwarcz, curadora da exposição “Leituras”, esclarece: “a exposição perpassa alguns momentos muito importantes da obra do Thiago. Ele tem seguido essas questões das leituras, como metáfora e prática oral, e vai explorando esse universo, ao mesmo tempo, lírico e subjetivo da leitura”

 

Por exemplo, o trabalho, {[( )]}, é o primeiro “livro livre” vencedor do prêmio do PRoAC em 2013, pensado por Honório justamente visando livrar-se de todos os tipos de formatação convencional dos livros.

 

“Quando pensei nesse livro, queria fazer algo que não fosse hierarquizado frente ou verso e que cada leitor pudesse montar, desmontá-lo ao seu bel prazer, no sentido de criar sua própria leitura, sua própria narrativa, a partir de uma sequência definida por cada pessoa. Então, nesse sentido, ele é livre pensando em livro como verbo e substantivo.”, comentou Thiago Honório.

 

Brigada Ligeira” e “Ponta de Lança”, livros do Antonio Cândido e Oswald de Andrade, respectivamente,  são intervenções que mostram parte da dimensão crítica de “Leituras” e relacionam o livro a uma ferramenta de pensar o espírito crítico. Ambos trazem um conteúdo combativo e crítico e estão juntos de elementos que remetem a armas - um estojo de projéteis para “Brigada Ligeira e um punhal envolto para “Ponta de Lança”.

 

A Biblioteca Mário de Andrade está localizada no Centro Histórico de São Paulo e fica próxima à estação de metrô Anhangabaú. A exposição ocupa o espaço durante os dias 23 de março a 16 de junho, com entrada gratuita e livre para todas as idades. 

 

Por Marcelo Lustosa

 

Leituras | Thiago Honório

Curadoria: Lilia Schwarcz

 

23 de março a 16 de junho de 2024

 

Leituras | Thiago Honório, curadoria de Lilia Schwarcz, constitui-se numa exposição individual realizada na Biblioteca Mário de Andrade – BMA, que recobre o arco temporal de 20 anos da produção do artista mineiro Thiago Honório (Carmo do Paranaíba, MG, 1979), a partir de um recorte de 18 trabalhos que tomam o livro como como matéria, como lócus para a produção, discussão e elaboracão de enunciados e questões no âmbito da arte contemporânea.

 

Sobre Thiago Honório

 

Thiago Honório (Carmo do Paranaíba, MG,1979) é bacharel em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da Unesp (2000), Mestre e Doutor em Artes Visuais pela ECA/USP. Desde 2006, é professor dos cursos de Artes Visuais (graduação – Licenciatura e Bacharelado) e, a partir de 2016, de Práticas artísticas contemporâneas (pós-graduação) da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP. 

 

Dentre as exposições individuais realizadas destacam-se: Texto, (Capela do Morumbi, SP, BR, 2023); Oração, (Galeria Luisa Strina, SP, BR, 2023); Ópera, (Piero Atchugarry Gallery / CAMPO AIR, Garzón, UY, 2023); roçabarroca, (MAM/SP, SP, BR, 2020); Luzia (CAMPO AIR, Garzón, UY, 2019); The Red Studio (ISCP/NYC, NY, EUA, 2018/2019); Solo (Galeria Luisa Strina, SP, BR, 2017); Trabalho (MASP, SP, BR, 2016). Em 2020, recebeu o Gulbenkian | AiR 351 Grant, Portugal. 

 

Em 2019, foi convidado a participar da residência artística CAMPO AIR em Garzón, Uruguai; e em 2018 recebeu o prêmio “Director’s Circle” do International Studio & Curatorial Program – ISCP, em New York; em 2016, integrou a 6ª Bolsa Pampulha (Museu de Arte da Pampulha, BH); em 2015, recebeu o Prêmio Programa de Residência Artística do Paço das Artes (Paço das Artes, SP); e, em 2012, do Programa de Residência Artística da Cité Internationale des Arts, em Paris, pela FAAP. É autor dos livros DULCINÉIA (em colaboração com o coletivo Dulcinéia Catadora, 1ª edição 2017, 2ª edição 2018); Augusta (Ikrek, 2017) e {[( )]} (Ikrek, 2016). 

 

Recebeu o prêmio PROAC “Livro de artista” de 2015. O artista foi vencedor do APCA 2023, prêmio brasileiro criado em 1956 pela Associação Paulista de Críticos Teatrais, na categoria Arte Contemporânea - Artes Visuais. Sua exposição individual “Oração” ocorrida em 2023 na Galeria Luisa Strina foi considerada “The Top Ten Shows Around the World in 2023” pela Revista Freeze.