Peça de Visniec que fala sobre censura e autoritarismo estreia no CCSP

Com direção de Clara Carvalho, “Ricardo III ou Cenas da Vida de Meierhold” entra em cartaz no dia 1ª de junho

A história do diretor teatral russo Meierhold, o autoritarismo na União Soviética e o drama “Ricardo III”, de William Shakespeare, misturam-se no romance “Ricardo III está Cancelada: ou Cenas da Vida de Meierhold”, do autor húngaro Matëi Visniec. Com direção de Clara Carvalho, o texto ganha montagem teatral na peça “Ricardo III ou Cenas da Vida de Meierhold”, que estreia dia 1º de junho, no Centro Cultural São Paulo.

O espetáculo retrata a dificuldade do encenador russo para montar uma adaptação do texto de Shakespeare. “Os principais empecilhos encontrados na peça por Meierhold são de ordem política e ideológica”, conta Clara. “Ele era um artista subvencionado pelo Estado, mas, a partir da década de 30, passa a sofrer contínuos constrangimentos e, na peça, é obrigado a mudar sua maneira de abordar ‘Ricardo III’”. A diretora explica que Meierhold, na vida real, sempre fazia as coisas do jeito que queria, apesar das pressões e repressões do regime stalinista, que chegou a torturar e prendê-lo, antes de fuzilá-lo. “Ele era um libertário incorrigível, genial e maravilhosamente teimoso.”

O elenco conta com Rubens Caribé, Duda Mamberti, Fernanda Gonçalves, Junior Cabral, Lívia Prestes, Mara Faustino, Rogério Brito e Rogério Pércore. Em cena, está presente também um boneco de manipulação, confeccionado pela Cia. Pia Fraus. “Ele personifica o mal em estado puro, é uma figura fascinante e assustadora”, explica a diretora. “O boneco reproduz o rei Ricardo III, mas também tem traços do Generalíssimo, que representa Stálin no texto de Visniec”. Sua presença configurou um desafio técnico para o elenco – são necessários três atores com treinamento especial para movimentá-lo.

Clara comenta a importância de encenar o texto nos dias de hoje. “Acho que nunca se propagou tanta besteira e tanta mentira com tanta velocidade na história da humanidade”, afirma. “Proliferam os bonecos furiosos, grosseiros e assustadores, iguais ao nosso boneco na peça. É trágico e assustador”. Ela finaliza com um comentário sobre o espetáculo. “É uma peça sombria – ainda que engraçada – sobre tempos sombrios.”

Por Gabriel Fabri

| Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho – Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso. Zona Sul. De 1º/6 a 7/7. 6ª e sáb, 21h. Dom., 20h. Sessões extras nos dias 6, 13 e 20 (5as), 21h. R$ 20