Esclarecimento: A verdade sobre as bibliotecas de São Paulo

Resposta à reportagem publicada no jornal 'O Estado de S. Paulo' em 5 de novembro intitulada '1 de cada 10 livros sumiu de bibliotecas e pontos de leitura nos últimos 4 anos'

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A reportagem “1 de cada 10 livros sumiu de bibliotecas e pontos de leitura nos últimos 4 anos”, publicada no caderno Metrópole, com chamada na primeira página d’O Estado de S. Paulo em 5 de novembro está errada. O primeiro parágrafo afirma que “347 mil livros sumiram das prateleiras entre 2006 e 2010”, e o último traz a informação, fornecida pela Secretaria Municipal de Cultura, de que “foram investidos 11,3 milhões na compra de 546.767 exemplares desde 2005”. Há uma clara contradição de números.


Induzida a erro pela ONG Nossa São Paulo, a reportagem não confrontou os dados que recebeu. No mesmo período, de 2007 a 2010, a Secretaria de Cultura comprou 393 mil livros. Se estendermos a pesquisa para o período entre 2005 e 2011, o número é ainda maior: 546.767 mil novos livros foram adquiridos. Como é possível, a partir destes dados, concluir, como fez a matéria, que “os exemplares perdidos não são repostos na proporção equivalente”?

Outro equívoco é afirmar que os livros “sumiram” das prateleiras. A informatização das coleções das bibliotecas municipais, iniciada em 2005 e recentemente concluída, possibilitou que a avaliação fosse feita item a item. Trata-se de um trabalho de grande impacto, que colocou à disposição da população todos os livros para consulta pela internet. Este processo permite que um leitor cadastrado na Biblioteca Cora Coralina, em Guaianases, possa, a partir do mesmo cadastro, emprestar livros da Biblioteca Monteiro Lobato na Vila Buarque, por exemplo.

Há 30 anos não era feita uma triagem nos exemplares à disposição nas bibliotecas municipais, a fim de dar baixa em obras desatualizadas ou em mau estado. Afinal, os livros em más condições ou desatualizados “sumiram” ou a informatização recente contabilizou esse déficit e promoveu as respectivas baixas? Se estes livros não estavam em condições de empréstimo e consulta, é recomendável tirá-los de circulação e repor o acervo com livros novos, o que foi feito. A matéria, se justa, deveria ter celebrado o fim dessa gigantesca operação (mais de 2,5 milhões de volumes catalogados em 6 anos) em vez de fazer eco a interpretações tendenciosas, enviesadas por interesses políticos. (Clique aqui para conhecer o site onde todos os livros do acervo podem ser consultados)

Frequência de público

A outra matéria publicada no mesmo dia, “Acervo de espaço na Vila Romana diminui em 68%”, aborda a questão da queda da frequência nas bibliotecas de bairro com moradores de maior poder aquisitivo e, como é o caso da Vila Romana, sem tratar de algo essencial para contextualizar este fenômeno: a mudança de perfil dos leitores, sobretudo em função do aumento da média de idade. Todos sabem que a demanda por investimento público está na periferia da cidade. Prova disso, é o sucesso do projeto ônibus-biblioteca. A média de empréstimos de livros nas bibliotecas municipais, em 2010, foi de 1.159 livros por mês, enquanto os ônibus emprestaram 3.114 livros por mês, cifra quase três vezes superior.

Diante destes fatos, os investimentos no projeto ônibus-biblioteca cresceram. No corrente ano foram investidos R$ 1,6 milhão nesse programa. Nesta semana começa a circular o 9º veículo e, em janeiro de 2012, a frota chegará a 12 ônibus, circulando por 72 pontos da periferia da cidade. Em 2005, a cidade contava com apenas dois.

Segundo o Censo Nacional das Bibliotecas, realizado pelo Ministério da Cultura e FGV, entre as bibliotecas brasileiras, apenas 25% têm acervo superior a 10 mil exemplares. Todas as bibliotecas municipais possuem mais de 10 mil itens de acervo. Ainda sobre o Censo, 83% das bibliotecas em território nacional constituem seu acervo principalmente por meio de doação. Em São Paulo, a opção utilizada é a compra do acervo. As bibliotecas do Estado de São Paulo apresentaram, em 2010, média mensal de empréstimo de livros de 702 exemplares, número 39% inferior à média de empréstimo das bibliotecas da Prefeitura nesse mesmo ano (1.159 empréstimos/mês). Uma  biblioteca em São Paulo dispõe em média da área de 915 metros quadrados; no Brasil esse índice é de 177 metros quadrados.  

Por último, cabe advertir que a situação das nossas bibliotecas, embora aquém dos índices recomendados pela Unesco, é amplamente vantajosa em termos nacionais.