Balé da Cidade de São Paulo estréia Canela fina

Marcando intercâmbio inédito com o Gran Teatro del Liceu, de Barcelona (Espanha), a Cia. 1 do Balé da Cidade de São Paulo estréia Canela fina, coreografia especialmente concebida pelo espanhol Cayetano Soto

Um aroma de canela promete se espalhar pela platéia do Theatro Municipal de São Paulo a partir do dia 4. O efeito vem dos cerca de 100 quilos da especiaria espalhados pelos cenários da nova coreografia da Cia. 1 do Balé da Cidade de São Paulo, Canela fina. Fruto de um intercâmbio entre o Gran Teatro del Liceu, de Barcelona, e o grupo, o trabalho leva assinatura do coreógrafo catalão de 33 anos, Cayetano Soto, e remete às sensações por que passa um corpo quando está apaixonado. O espetáculo integra as comemorações dos 40 anos da companhia.

Intercâmbio artístico
Desde 2005, quando viu o Balé da Cidade em uma participação no Festival de Dança da Holanda, o diretor artístico do Liceu, Joan Matabosch, decidiu firmar uma parceria inédita com a companhia paulistana. Por meio de um intercâmbio, o grupo faria, em São Paulo, a estréia mundial de um trabalho criado por um jovem artista espanhol. Em seguida, a mesma peça seria encenada em Barcelona. O resultado foi Canela fina. Segundo Mônica Mion, diretora artística do Balé da Cidade, o convite foi importante, pois o Liceu é uma das casas mais respeitadas em todo o mundo. “Em seu palco, apresentam-se, regularmente, companhias como a de Pina Bausch e o New York City Ballet”, conta.

Fazer uma criação para o grupo vem ao encontro da linha de trabalho desenvolvida para a composição de seu repertório nos últimos anos. “Desde 2004, atingimos um estágio em que os coreógrafos que vieram para o Balé conceberam peças especialmente para nós”, explica a diretora.

Após a temporada paulistana, o programa, que conta também com Perpetuum, de Ohad Naharin, e Dualidade@br, de Gagik Ismailian, será reapresentado em setembro na Espanha.

Estréia dupla
Enquanto era bailarino do Ballett Theater München, na Alemanha, entre 1998 e 2005, Cayetano Soto foi incentivado pelo diretor artístico Philip Taylor para, além de dançar, desenvolver suas primeiras coreografias. Até hoje, criou 11 trabalhos para companhias européias, porém Canela fina traz uma expectativa especial para ele. “O espetáculo marca a estréia do Balé da Cidade em Barcelona, e é também minha primeira apresentação como coreógrafo em meu próprio país, onde pouca gente me conhece”, revela Soto. 

Desembarcando em São Paulo em maio, o criador catalão conta que percebeu que o Brasil tem uma característica que o diferencia dos outros locais onde trabalhou. “O povo brasileiro tem um dom especial para o canto e a dança. Até as crianças dançam nas ruas com uma desenvoltura única”, afirma. Essa impressão positiva se reflete também na avaliação que faz do Balé da Cidade. “O que mais me surpreendeu foi perceber que a companhia é diferente das européias. Lá, muitas vezes se anula a característica individual do bailarino em nome do conjunto. Aqui, cada um dos 28 intérpretes tem personalidade própria, mas isso, além de não comprometer a uniformidade do trabalho, já que a qualidade técnica é semelhante, acrescenta muito na criatividade.”
 
“És canela fina!”
Apesar do duplo sentido que pode transmitir ao brasileiro, a expressão espanhola “canela fina” não é pejorativa, ao contrário, refere-se à especiaria milenar, considerada afrodisíaca, que confere um sabor e um aroma característicos aos alimentos. “Além disso, antigamente, na Espanha, quando se via uma pessoa muito bonita, muito sensual, dizia-se que ela era canela fina”, explica o coreógrafo. Uma gíria semelhante também era usada no Brasil, há alguns anos. Quando se observava uma moça atraente, especial, era comum elogiá-la afirmando-se que era “biscoito fino”.

A idéia da peça é trazer à tona tudo o que acontece quando alguém está apaixonado. “Quero traduzir em desenhos coreográficos a forma como o corpo se movimenta nessa situação”, diz Soto. “Não é sexual, mas sensual e imaginário”, completa. Por essa razão, canela em pó será espalhada pelos cenários, exalando seu aroma sedutor.

Para a trilha sonora foi escolhida a obra Weather¬ One, escrita em 1997 pelo norte-americano Michel Gordon. “Eu gosto dessa composição por ser ao mesmo tempo moderna e minimalista, e por misturar orquestra de cordas com música eletrônica”, conta o coreógrafo. A peça percorre um crescendo sonoro que lembra uma tempestade. “Quando estamos apaixonados, nosso corpo enfrenta uma verdadeira tormenta”, conclui.


40 anos de dança

Como parte das comemorações dos
40 anos da companhia, o Balé da Cidade de São Paulo, além de Canela fina, estreará em dezembro, O lago dos cisnes, novo trabalho de Sandro Borelli. A criação do coreógrafo paulistano utilizará a música original de Tchaikovsky, para fazer uma releitura do balé original, propondo uma reflexão sobre a opressão que vive o homem contemporâneo. Acompanhada ao vivo pela Orquestra Experimental de Repertório, sob a regência de seu maestro titular, Jamil Maluf, a peça integrará, pela primeira vez em uma mesma coreografia, bailarinos das Cias. 1 e 2 do Balé da Cidade.

Segundo Mônica Mion, Borelli fará uma leitura diferente, com suas características próprias, apresentando um trabalho muito profundo, às vezes agressivo, mas sempre bem colocado. “Eu acho que ele representa muito bem São Paulo. É um coreógrafo paulista por excelência”, afirma. Os ingressos já podem ser adquiridos na bilheteria do Theatro Municipal.

Outra ação que deverá ter início este ano é a de conservação, digitalização e catalogação do acervo da companhia, reunido em suas quatro décadas de existência.


Serviço: Theatro Municipal de São Paulo. Praça Ramos de Azevedo, s/nº. Centro. Tel. 3397-0327. Dias 4 e 5, 21h. Dias 6 e 9, 17h. R$ 10 a R$ 15. Dia 8, 21h. R$ 5 a R$ 10