Quando João Guimarães Rosa escreveu seu terceiro livro, Grande sertão: Veredas, ele talvez não imaginasse que a linguagem particular e a essência metafísica de seu romance pudessem servir de inspiração para outras manifestações artísticas, como a dança.
Em comemoração do centenário de seu nascimento, que seria completado dia 27 de junho, o escritor brasileiro é homenageado no evento 100 Anos de Rosa, em cartaz na Galeria Olido a partir do dia 15. Compõem a programação três espetáculos de dança; narração de contos com o grupo Tudo Era Uma Vez, de Belo Horizonte; apresentação musical com a dupla Jean e Joana Garfunkel; depoimentos em vídeo e exposição de fotos, bordados e brinquedos.
Idealizada pelo dançarino José Maria Carvalho, a trilogia Era infinitamente maio, resultado de oito anos de pesquisa em Minas Gerais, estado natal de Rosa, é composta por coreografias inspiradas em passagens do livro Grande sertão: Veredas: Obra em negro (homem dos avessos), Obra em branco (tatarana lagarta de fogo) e Obra em rubro (urutu branco e cobra voadeira). “Os três trabalhos coreográficos nascem não para ordenar a história, mas para buscar aspectos que em uma primeira leitura estão subentendidos no texto”, explica Carvalho.
As danças articulam elementos da dança-teatro japonesa butô e das danças populares brasileiras, com destaque para a cultura sertaneja. Gestos, cenários, figurinos e desenho de luz foram estudados de forma a capturar os diferentes estados de alma presentes na obra. Elementos como bambu, papel de seda e couro ganham diferentes formatos junto aos corpos dos dançarinos, propondo a representação do sertão filosófico de Rosa.
As melodias e ritmos que compõem o projeto, gravadas em algumas regiões mencionadas pelo autor, enriquecem a atmosfera do sertão mineiro representada na coreografia. Entre os sons naturais, destaca-se o ruído de um carro de boi.
Veja a programação:
1OO ANOS DE ROSA
GALERIA OLIDO / SALA PAISSANDU / CENTRO / GRÁTIS
- NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
Grupo Tudo Era Uma Vez, de Belo Horizonte. Com Dôra Guimarães e Elisa de Almeida.
Apresentação do conto Diadorim – No cargo fio destas recordações, de Guimarães Rosa.
/ Sala Café. Dia 15 19h - HOMEM DOS AVESSOS
Com Zé Maria.
Espetáculo de dança-solo Era infinitamente maio – Obra em negro.
/ Sala Paissandu. De 15 a 17, 20h. Dia 18 19h - NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
Grupo Tudo Era Uma Vez, de Belo Horizonte. Com Dora Guimarães e Elisa de Almeida.
Apresentação do conto Estórias de mulheres, de Guimarães Rosa.
/ Sala Café. Dia 22 19h - TATARANA LAGARTA DE FOGO
Com Zé Maria e dançarinos do Espaço Viver.
Espetáculo de dança-solo Era infinitamente maio – Obra em branco.
/ Sala Paissandu. De 22 a 24, 20h. Dia 25 19h - SERTÃO NA CANÇÃO
Apresentação musical com composições inéditas de autoria da dupla Jean e Joana Garfunkel, inspiradas no romance Grande Sertão: Veredas.
/ Sala Café. Dia 29, 19h - URUTU BRANCO E COBRA VOADEIRA
Com Zé Maria e dançarinos do Espaço Viver.
Espetáculo de dança-solo Era infinitamente maio – Obra em rubro.
/ Sala Paissandu. De 29 a 31, 20h. Dia 1º/6, 19h.
EXPOSIÇÕES 100 ANOS DE ROSA
HALL DE ACESSO À SALA PAISSANDU / ANTES DAS APRESENTAÇÕES / GRÁTIS
- FOTOGRAFIAS
A fotógrafa e pesquisadora Angélica Del Nery mostra fotos de pessoas e lugares do sertão mineiro. - BORDADOS
O grupo Teia de Aranha apresenta painéis bordados inspirados no livro Grande sertão: Veredas, e nos contos Buriti, Estória de Lélio e Lina, Campo geral e Sorôco, sua mãe, sua filha. - BRINQUEDOS
A arte-educadora Selma Maria apresenta Meninos quietos, mostra de brinquedos feitos por pessoas do sertão mineiro. - FOTOS E ÁUDIO
A professora Beth Ziani pesquisa as narrativas de estórias, histórias, canções e contos das pessoas de Cordisburgo, Andrequicé e Morro da Garça. Na mostra Memória viva do sertão são exibidos retratos dessas pessoas e áudios com narrativas gravadas
Era infinitamente maio
Era infinitamente maio