Peça “ANTIdeus” discute influência da religião na sociedade

Com trechos de Anticristo, de Nietzsche, peça reestreia no Teatro João Caetano com sessões gratuitas até 4 de setembro

Um presidente decide cancelar todos os feriados religiosos. Esse é o ponto de partida da peça ANTIdeus, de Carlos Canhameiro, que reestreia no Teatro João Caetano. Com sessões gratuitas até 4 de setembro, a peça, premiada em 2016 com o Edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, do Centro Cultural São Paulo (CCSP), propõe uma discussão sobre a influência da religião na sociedade, mas também sobre a forma teatral em si.

“Há uma certa provocação se é possível separar as ações políticas das religiosas, voltando a uma ideia quase ingênua de Estado Laico”, conta Carlos Canhameiro, diretor e dramaturgo. “Não deveria existir essa ideia de que a verdade é alguma coisa que uns possuem e outros não, citando aqui Nietzsche”. O filósofo alemão, autor de Anticristo, é uma das referências da peça, com trechos citados por alguns dos personagens. Entretanto, o espetáculo amplia o leque de discussão ao não focar no catolicismo especificamente, mas em todas as religiões monoteístas. “O Nietzsche está contra a religião cristã, e eu não estou contra nada. Estou mais na linha de Giorgio Agamben, na qual o anti não significa tanto a contradição, mas a semelhança”, afirma, citando o filósofo italiano autor de Homo Sacer.

O espetáculo também tem interesse em discutir a forma teatral, com uma narrativa não convencional. “Não se trata de dar uma lição de moral nas pessoas. A maior preocupação é a forma, já que não há uma história linear”, explica. “A ideia é buscar outras formas, outras imaginações possíveis para se viver em conjunto, em sociedade.”

Nessa reestreia, Canhameiro explica que não fez nenhuma atualização no espetáculo, mas afirma ser provável que, devido à conjuntura política, o público receba ANTIdeus de uma outra maneira. “O Brasil mudou muito e isso faz com que a peça tenha uma nova leitura”, intui o diretor. “Quando estreamos em 2017, as coisas já se encaminhavam para a catástrofe, mas nem nos meus piores pesadelos eu imaginaria que estaríamos onde estamos. Então, estamos até curiosos para saber como a peça vai ser recebida nesse momento.”

Por Gabriel Fabri

| Teatro João Caetano. Rua Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino. 12/08 a 04/09. Sexta e Sábado, às 21h, e domingo, às 19h. LIBRAS: 19/08. 70 minutos. +16 anos.