Balé da Cidade estreia “A Biblioteca de Babel” no Theatro Municipal

Espetáculo inédito, com direção de Ismael Ivo, é apresentado entre os dias 15 e 23 de junho

Tendo como ponto de partida o conto de mesmo nome do escritor argentino Jorge Luis Borges, o Balé da Cidade de São Paulo estreia “A Biblioteca de Babel”, no Theatro Municipal. Com coreografia assinada pelo diretor artístico da companhia, Ismael Ivo, o espetáculo é apresentado entre os dias 15 e 23 de junho.

Na história original, a biblioteca representa todas as possibilidades da vida, provando-se um local infinito, cuja origem é desconhecida. No espetáculo, o palco do Municipal se transforma em uma estante gigante, na qual os bailarinos se posicionam como se fossem livros, cada um com a sua individualidade e história única. “Cada bailarino é um livro a ser descoberto”, explica Ivo. “A estante é como se fosse um casulo de onde, um dia, vai nascer uma borboleta.”

Partindo do estudo da teoria da evolução de Darwin e dos movimentos registrados pela fotografia do inglês Eadweard Muybridge, os bailarinos criaram passos que representam a evolução humana. Uma vez quebrados os vidros de suas prateleiras, eles exploram a movimentação do corpo, conhecendo suas possibilidades, até experimentarem o convívio com o outro e com suas diferenças – o que gera os primeiros conflitos sociais de cada um. O momento é de ruptura e relaciona-se com o mito da Torre de Babel, no qual, após a derrubada da mesma, cidadãos de línguas, religiões e culturas diferentes são obrigados a conviverem entre si.

O espetáculo funciona como uma metáfora para os dias de hoje. “Nós estamos vivendo um momento de desentendimento: é Torre de Babel”, afirma o coreógrafo. “Nesses tempos de polarização, as pessoas começaram a permitir o corte de sua própria liberdade. Estão infelizes e tomam atitudes radicais”. Esse período de confusão é representado por uma série de duos de batalha, por exemplo. “Dentro dessa biblioteca, onde cada um de nós é um livro, temos que nos abrir, trocar nossas informações com o outro, entendê-lo e aceitá-lo.”

Para Ivo, o desentendimento e o desrespeito nos dias de hoje levaram nossa sociedade a retroceder em algumas coisas, surgindo novas repressões e censuras. “O corpo nu, uma questão que já tinha sido ultrapassada no mundo das artes, por exemplo, voltou a causar escândalo”, explica. Mas, se depender do Balé da Cidade, essas repressões serão desafiadas: o prólogo traz uma bailarina nua debaixo de um esqueleto, em uma homenagem à artista performática sérvia Marina Abramovi?. “A única coisa que a gente tem certa é a morte, o resto você inventa, é a vida”, conclui.

Por Gabriel Fabri

| Theatro Municipal. Pça Ramos de Azevedo, s/nº, Centro. Dias 14, 15, 19, 20, 21 e 22, 20h. Dia 16 e 23, 18h. De R$12 a R$80. 14 anos.