Peça “Nefelibato” retrata morador de rua sem papas na língua

Monólogo tem apresentações gratuitas entre 14 e 16 de dezembro, no Centro Cultural Olido

Como consequência do confisco do dinheiro durante o governo Collor, um homem perde o seu negócio e, na esteira, a família. “O contexto todo desencadeou perdas, toda a estrutura dele foi desmontada. Diante disso, ele resolve, simplesmente, desistir”, conta o ator Luiz Machado a respeito do protagonista de “Nefelibato”. O monólogo, com direção de Fernando Philbert, tem apresentações gratuitas entre os dias 14 e 16 de dezembro, no Centro Cultural Olido.

A palavra “nefelibata” significa uma pessoa que vive nas nuvens, fora da realidade. Esse é o caso do personagem de Machado, que, diante das dificuldades, vai viver na rua. “Com um pensamento muito racional, lúcido, ele se faz de louco para poder viver a vida dele”, explica o ator. “Ele se desliga do mundo, vê tudo acontecendo de fora dele. O baque foi tão grande que ele não quer mais participar dessa realidade.” Segundo Machado, o personagem fala de assuntos que todos gostaríamos de dizer, sobre o ser humano e sobre a sociedade, mas que silenciamos. “Como não tem nada a perder, ele fala coisas como se não tivesse filtro, não está nem aí.”

O personagem foi um desafio, pois se insere em uma realidade pela qual o ator nunca passou. Ele até cogitou passar uma noite na rua para tentar se aproximar desse universo. “O diretor não deixou – nem a minha esposa”, conta. Para a pesquisa, entretanto, precisou conversar com muitos moradores de rua do Rio de Janeiro para entender essa realidade, e a maneira como eles agem e pensam. “Cada um tem o seu motivo próprio para estar lá”, conta. “Algo aconteceu na vida dele, o levou a desistir e a morar na rua.” Outra referência foi “O Pescador de Ilusões”, filme de Terry Gilliam no qual o personagem enlouquece e vai parar nas ruas.

Por Gabriel Fabri

| Centro Cultural Olido. Av. São João, 473. Próximo das estações República, Anhangabaú e São Bento do metrô. Centro. | tel. 3331-8399 e 3397-0171. Dias 14 e 15, 20h. Dia 16, 19h. Livre. Grátis.