Texto do Escocês Anthony Neilson, "Sutura" chega ao Teatro Alfredo Mesquita

Com direção de César Baptista, espetáculo faz temporada no Teatro Alfredo Mesquita, de 2 a 25 de novembro

Por Cidy Dionísio

A notícia de uma gravidez intensifica a dinâmica já estabelecida de um casal que tenta reorganizar sua vida, já inconstante e desequilibrada. Na tentativa de reconstruir essa história de amor, o terreno se revela movediço: encontros, desencontros, desejos, sonhos, ficção e realidade atravessam a relação, com ternura e brutalidade, abrindo espaço para expor as precariedades e os limites do próprio relacionamento.

Com direção de César Baptista, Sutura, espetáculo teatral baseado no texto do escocês Anthony Neilson, faz temporada no Teatro Alfredo Mesquita, de 2 a 25 de novembro. Com Anna Cecília Junqueira e Ivo Müller no elenco, a peça discute, de forma ácida e inteligente, temas como o amor, a hipocrisia, a busca por felicidade, os pequenos poderes nas relações e a fragilidade da natureza humana.

O diretor optou por uma montagem que busca promover a identificação da plateia com o drama vivido pelo casal, despertando cumplicidade. Ao mesmo tempo, a peça procura gerar desvios, por vezes sutis, que colocam certezas em xeque.

Esse caminho, cheio de detalhes rigorosamente pensados para a cena, procura não dar a história totalmente pronta para a plateia, de modo que ela mesma possa contribuir, em certa medida, com sua perspectiva. Para Baptista, no íntimo de tudo isso está o jogo entre os atores e o texto usado na construção do trabalho. “As questões que esse texto traz saltaram aos nossos olhos exponencialmente. Temas como hipocrisia, incomunicabilidade, dilemas dos relacionamentos amorosos, maternidade, paternidade e a condição humana posta em cheque em situações limites vieram ao encontro do que queríamos discutir”, conta César.

Para o ator Ivo Müller, para compor o personagem do marido, foi necessário desconstruir e quebrar referências masculinas como as de seu pai, avô, tios e professores que nutriram sua formação. “Numa primeira leitura, o machismo parecia se encaixar no que o texto apontava. No entanto, ao nos aprofundarmos um pouco mais em busca do homem que questiona suas atitudes e sua própria masculinidade, mudei meu modo de ver o texto e o personagem e passei a insistir que ele não poderia ser machista”, explica.

Já Anna Cecília, que interpreta uma mulher impulsiva, passional e, ao mesmo tempo, insegura, que é capaz de colocar a sua vida e a dos outros em risco por amor, deixa o recado para aqueles que pretendem assistir ao espetáculo: “Não esperem por uma peça convencional de casal. Sutura é bem mais radical e surpreendente. Ela é corte seco, com tesão e paixão, e nos faz questionar profundamente sobre quando e como um amor pode acabar, ou continuar, dentro de um relacionamento”, afirma.

Serviço:
| Teatro Alfredo Mesquita. De 2 a 25. Sex. e Sáb., 21h. Dom., 19h. 70 min. + 14 anos. R$ 30.