Espetáculo ironiza tentativas de moldar o discurso artístico

“Aula Magna com Stalin” chega aos teatros João Caetano, Arthur Azevedo e Paulo Eiró a partir de 25 de maio

 Uma aula de música clássica ministrada por ninguém menos que Stalin, então o ditador da União Soviética (URSS). Os Alunos? Dois dos maiores compositores de todos os tempos, os russos Serguei Prokofiev e Dmitri Shostakovich. Essa situação absurda é o mote de “Aula Magna com Stalin”, espetáculo dirigido por William Pereira, com texto do dramaturgo britânico David Pownall. Com apresentações a preço popular, a peça chega aos teatros João Caetano, Arthur Azevedo e Paulo Eiró, a partir de 25 de maio.

A peça é estruturada por dois atos de tons distintos. “O primeiro é uma espécie de ritual de humilhação, são os dois compositores diante do totalitarismo”, conta o diretor. Em contraponto, o segundo ato é carregado de ironia, expondo o ridículo dos dois personagens que representam o governo soviético, Stalin e o seu encarregado da política cultural, Jdanov. “É o momento em que o ditador quer decidir os rumos da música e propõe que os quatro componham uma grande obra juntos”, pontua. “A peça é uma grande metáfora sobre tentarem modelar a arte a algum propósito ou ideologia, seja por iniciativa de um governo ou de uma moralidade da sociedade”, completa.

Embora o texto seja ficcional, uma vez que tal encontro nunca ocorreu de fato, a peça tem acontecimentos reais como pano de fundo, sendo ambientada em 1948, ano em que o Partido Comunista russo definiu, por decreto, quais seriam as diretrizes oficiais da arte. Assim, oficializou a estética do realismo socialista e condenou qualquer manifestação que fugia desses padrões impostos. O que não era uma novidade: uma década antes, o próprio Shostakovich já havia sido censurado, sendo sua ópera mais importante, “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk”, proibida de estrear no país.
Com apenas quatro atores contracenando o tempo todo, a peça traz um recurso incomum na construção dos personagens: cada um deles se aproxima de um gênero teatral diferente. “O registro de Shostakovich é quase trágico; o de Prokofiev é dramático; já Stalin esbarra no cômico, enquanto o secretário beira o farsesco”, explica o diretor.

Outro recurso interessante da peça é o cenário claustrofóbico: uma sala de arquivo onde todos os artistas da época estão catalogados. “Isso cria um ambiente de tortura psicológica, ao mesmo tempo em que traz a informação de que, naquela época, toda a arte era fiscalizada e fichada”, afirma Pereira. Em cada caixa, está o nome de um artista russo do período. “Uma espécie de lápide”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Serviço: | Teatro João Caetano. Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino. Próximo da estação Santa Cruz do metrô. Zona Sul. | tel. 5573-3774. De 25/05 a 17/06. Sex., 21h, Sáb., 20h30 e Dom., 19h.
| Teatro Arthur Azevedo. Av. Paes de Barros, 955, Mooca, Zona Leste | tel. 2604-5558. De 22/6 a 1º/7. Sex., 21h, Sáb., 20h30 e Dom., 19h.
| Teatro Paulo Eiró. Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro. Zona Sul. | tel. 5546-0446 e 5686-8440. De 6 a 15/7. Sex., 21h, Sáb., 20h30 e Dom., 19h.
| R$ 20. 16 anos