Virada Cultural : 24 horas que abalaram São Paulo

Moisés Santos

Praças, calçadas, ruas, galerias, teatros e cinemas cheios. O balanço da primeira edição do evento Virada Cultural teve um saldo positivo, embora alguns aspectos deverão ser aprimorados para a próxima edição, prevista para maio de 2006. Foram mais de 3.000 artistas em 27 palcos montados ao ar livre pela cidade inteira. Nos bairros, reggae, samba, pagode, hip-hop e uma ampla programação eclética ao longo das zonas Leste, Norte, Sul e Oeste. Mesmo com um forte calor e uma chuva imprevista no início da madrugada, não foi registrado nenhum incidente grave nos mais de 250 locais onde aconteceram atrações da maratona. Para o secretário adjunto de Cultura, José Roberto Sadek, "esse evento mostrou um dos lados bons da cidade". Para o secretário adjunto o mais importante é que "o conceito caiu no gosto da população e não volta mais atrás. A idéia é ter muita atividade para todo tipo de interesse, para todos os gostos e para todas as tribos. Não queremos grandes eventos de massa, mas sim inúmeros eventos por toda a cidade, dos quais todo mundo possa participar".

Lições para a próxima edição

Com uma programação bem variada, muitas pessoas tiveram a oportunidade de assistir a eventos a que não estão acostumadas. Tudo começou na tarde de sábado no Parque da Independência, ao som Hino Nacional. No palco, a Orquestra Experimental de Repertório, sob regência do maestro Jamil Maluf. A partir daí, seguiu-se uma maratona histórica. Dentre os destaques, a encenação gótica com o ator José Mojica Marins, o Zé do Caixão, no Cemitério da Consolação, com os alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco pedindo a volta do busto de Álvares de Azevedo; a volta em grande estilo do Mercado Mundo Mix, com a presença de mais de 16 mil pessoas; o show de Tom Zé, Paulo Vanzolini e Elza Soares no Anhangabaú; e o encerramento com Adriana Calcanhoto para crianças, no Museu do Ipiranga. No Ipiranga, a receptividade da população foi tão grande que a proposta agora é que o espaço seja freqüentemente utilizado. Tiago, um rapaz que ficou boa parte da noite no Vale do Anhangabaú, disse que essa foi uma boa oportunidade para conhecer os grupos que a metrópole possui. Sua amiga Ilenara declarou: "Eu gostei bastante do evento. Foi um acerto da Secretaria de Cultura. Realmente precisava por mais shows aqui desse tipo, dessa qualidade, no Centro de São Paulo. Fantástico!".

A Virada teve também adesões espontâneas, como a dos freqüentadores da Galeria do Rock, na Avenida São João, que acabaram entrando na festa na última hora, e do sistema metroviário, que liberou o funcionamento de suas estações durante as 24 horas pela primeira vez em sua história. Motoristas de táxi, catadores de lata e comerciantes demonstraram grande entusiasmo com a movimentação na cidade. Vinte ônibus especiais foram colocados em circulação para fazer exclusivamente o circuito da Virada. Espera-se que em 2006 a Virada Cultural receba um apoio ainda maior por parte de associações e da iniciativa privada. "Queremos também para a próxima edição do Virada Cultural fazer alguns ajustes no horário de início e encerramento", avalia o secretário adjunto.

O Theatro Municipal registrou um grande movimento durante todo o dia, com a presença de centenas de pessoas, incluindo 50 adolescentes que moram em Cidade Tiradentes, que participaram das visitas monitoradas. À meia-noite, durante o show da cantora Fortuna, o Theatro estava lotado com todos os ingressos esgotados. Para o próximo ano, está prevista uma participação mais ampla do Theatro Municipal na programação. A situação foi semelhante no anfiteatro da Biblioteca Mário de Andrade, que teve todos seus lugares ocupados durante a apresentação do compositor e cantor Walter Franco. A exibição do longa-metragem As Sete Vampiras, de Ivan Cardoso, no Cine Olido, teve lotação máxima. Os ingressos para o filme se esgotaram logo nos primeiros quinze minutos de distribuição. O mesmo não aconteceu no Mercado Municipal e no coreto da Estação da Luz, que registraram pouco movimento.

Algumas escolas de samba da cidade também fizeram questão de participar da Virada. Na quadra da Escola de Samba de Vila Maria, zona Norte, se apresentaram intérpretes de diversas escolas do grupo especial, com uma média de público de 3.000, pessoas e pelo menos 1.800 pessoas estiveram presentes nas apresentações realizadas na Escola de Samba Barroca Zona Sul, na Água Funda.

Nos bairros, o evento foi um grande sucesso, principalmente em Parelheiros, Itaquera, Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, onde o show do grupo Expressão Regueira conseguiu levar mais de 7 mil pessoas à Praça Conde Assis Pereira. Segundo José Mauro Gnaspini, um dos organizadores do evento, "os eventos em bairros como Freguesia do Ó, Cidade Tiradentes e Lapa precisarão ser reestruturados na próxima edição". Para José Mauro "a coisa mais importante da cidade é essa diversidade cultural".

Outro momento marcante da programação foi a inauguração da galeria de livros subterrânea na passagem sob a Rua Consolação. O espaço, que antes servia apenas como passagem para transeuntes, agora é palco de oficinas literárias e workshops e receberá uma reprodução do acervo bibliográfico do Centro Cultural São Paulo.

Parcerias importantes

As parcerias feitas com a Secretaria Estadual de Cultura e com o Sesc foram fundamentais para ampliar a celebração cultural. Mais de 3 mil pessoas passaram pela Pinacoteca do Estado, que funcionou até meia-noite com exposições de fotos. No Sesc Pompéia, que virou toda a madrugada, mais de 10 mil pessoas visitaram a exposição Terra Paulista, que contou a história da tradição paulista por meio de maquetes, fotografias, quadrinhos, vídeos, instalações lúdicas e reproduções de pinturas, e cerca de 2.000 pessoas se divertiram fazendo arte nas paredes e assistindo a filmes ao ar livre.

Em síntese, foi um fim de semana bastante diferente para a cidade e a Virada Cultural passou a ser a cara de São Paulo marcada permanentemente em seu calendário oficial.