Testemunha ocular, Becherini é tema de mostra

Contratado para desenvolver um livro intitulado Álbum comparativo da cidade de São Paulo, Aurélio Becherini se empenhou em registrar a transformação da cidade que saía do período colonial rumo à modernidade

No início do século 20, caminhava pela cidade um indiscreto fotógrafo munido de toda a parafernália necessária à época: câmera, tripé e outros equipamentos fotográficos de grande porte.

Contratado pelo então prefeito Washington Luís para desenvolver um livro intitulado Álbum comparativo da cidade de São Paulo, Aurélio Becherini se empenhou em registrar a transformação da cidade que saía do período colonial rumo à modernidade.

Antes de iniciar esse trabalho para a Prefeitura, Becherini ficou conhecido como o primeiro repórter-fotográfico de que se tem notícia na capital. Seus registros foram publicados principalmente no jornal O Estado de S. Paulo. E em razão dessa experiência, ele imprimiu um olhar jornalístico em toda sua obra futura. O resultado pode ser visto na exposição que entra em cartaz na Galeria Olido, dia 12, às 19h. O trabalho dá continuidade à proposta de difusão da coleção de imagens da Seção Acervo de Negativos do Departamento do Patrimônio Histórico iniciada, em 2007, com a publicação do livro BJ Duarte: caçador de imagens.

A mostra reúne 40 imagens de Becherini que integram o acervo do fotógrafo, adquirido pela Prefeitura e organizado por Benedito Junqueira Duarte quando titular da Divisão de Iconografia do recém-criado Departamento de Cultura, dirigido por Mário de Andrade. Além dessas fotografias, estão expostas outras de autoria de Valério Vieira, Militão Augusto de Azevedo e Guilherme Gaensly que documentaram a cidade no início do século e tiveram alguns de seus trabalhos adquiridos por Becherini para compor um acervo sobre a capital.

Dia 25, chega, ainda, às livrarias, uma publicação com uma seleção mais ampla do acervo do fotógrafo, além de textos do organizador do livro e curador da exposição, Rubens Fernandes Júnior, do sociólogo José de Sousa Martins e da arquiteta Ângela Garcia.

Uma das características identificadas no trabalho de Becherini é o realismo das imagens. “Há uma cumplicidade quase emocionante. Parece que ele sabia que suas fotos seriam documentos históricos importantíssimos. Há pessoas que olham para a câmera, numa postura que nos permite imaginar que sabiam que se tratava de um registro para a posteridade”, destaca Fernandes Júnior.

Sousa Martins defende que o trabalho de Becherini praticamente documentava o que era ser paulistano antes da revolução de 1930, que marcou o fim da República Velha. “Examinando as fotos tão densas e vivas, tive a impressão de estar nas ruas, conversando com aquelas pessoas”, completa.

|Serviço: Galeria Olido. Centro. Abertura: dia 12, 19h. Lançamento do livro: dia 25, 19h30. Visitação: de 13 a 30. De 3ª a sáb., das 12h às 21h30. Dom., das 12h às 20h. Grátis