Bugios-ruivos, macacos ameaçados de extinção, são devolvidos à natureza após cuidados da Prefeitura de São Paulo

Tratados e vacinados contra a febre amarela, animais são reintroduzidos à mata tropical com auxílio da Divisão da Fauna Silvestre, da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente

 

Um grupo de bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans), macacos ameaçados de extinção pela febre amarela, foi solto na natureza, no último dia 28 de fevereiro. Os animais foram recebidos e tratados em cativeiro no Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres (CeMaCAS), da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, a fim de garantir a saúde e manutenção da espécie.

Após os cuidados prestados durante esses anos, a DFS devolveu os indivíduos à vida livre, que foram soltos em uma Unidade de Conservação (UC) do Estado de São Paulo, com o apoio da Fundação Florestal (FF), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

Em uma primeira fase de soltura, cinco indivíduos da mesma família foram ambientados em um recinto de aclimatação no meio da mata e acompanhados diariamente pelos técnicos da DFS durante nove dias. Depois de comprovada a ambientação, a soltura completa foi realizada no dia 28 de fevereiro, quando os bugios finalmente passaram a viver em liberdade.

Para garantir o sucesso da ação e acompanhar o dia a dia dos grupos soltos na mata, são utilizados colares de monitoramento presos ao pescoço dos bugios. Esses dispositivos emitem sinais permitindo acompanhar como eles interagem com o ambiente, seu estado de saúde, rotas de migração, padrões de reprodução e interação social, dentre outras informações importantes para a preservação da espécie.

Os bugios e sua importância
Bugio, uivador, guariba, barbado ou aluata é uma espécie de primata pertencente à Mata Atlântica. Vivem nas copas das árvores, possuem uma preferência alimentar por folhas e frutos, e auxiliam na dispersão de sementes.

Seu nome científico é Alouatta guariba clamitans, e um fato curioso sobre sua organização é que eles vivem em bando. Com grupos de dois a 11 macacos, sempre liderados por um macho adulto, os bugios são dependentes da socialização para sobrevivência. Sua preservação é muito importante na manutenção das florestas e contribui na redução de impactos ecológicos, controle de alterações climáticas e equilíbrio da biodiversidade.

Trabalho contínuo
A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) atua para promover a reintrodução desses animais desde 1996, trabalho que foi suspenso com o surto de febre amarela no estado de São Paulo ocorrido entre 2017 e 2018.

Nesse período, a Divisão da Fauna Silvestre (DFS) recebeu dezenas de bugios por motivos que vão desde infecções pela doença, até mordidas de cães, choques elétricos, atropelamentos por automóveis, filhotes órfãos, entre outros, e os manteve sob cuidados no CeMaCAS, considerado o maior centro de manejo público e referência na América Latina.

Imunização contra febre amarela
A DFS promove o recolhimento, tratamento, vacinação e reintrodução de animais silvestres ao seu habitat natural. Com enfoque na prevenção contra o vírus da febre amarela, que afetou boa parte da população de bugios, a fim de garantir que as áreas de vazios populacionais fossem repovoadas e que não fossem novamente dizimados, foi realizado um importante trabalho de vacinação da espécie.

Em 2022, foram vacinados 38 animais em um projeto de pesquisa em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Em seguida, os animais foram acompanhados por mais de um ano, comprovando o sucesso da vacinação. A meta foi garantir a imunização integral e resolver demais problemas de saúde.

O projeto de vacinação foi premiado em 2023 durante o XXXI Encontro e XXV Congresso da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (ABRAVAS), em Brasília.

Apesar de não transmitirem o vírus a seres humanos, os bugios são extremamente sensíveis e por isso a letalidade é tão grande comparada a outros primatas. Entretanto, desde que os animais foram recebidos e tratados, os técnicos do CeMaCAS acompanharam o nascimento de cinco filhotes em cativeiro, o que é muito positivo, já que eles vivem em grupo.

Os cuidados com a espécie têm como referência o projeto “Manejo e Conservação do Bugio Alouata clamitans (Primates, Atelidae) na Região Metropolitana de São Paulo”.