O que poderia surgir depois que uma cantora, um pianista e um encanador se encontrassem em meio ao caos de uma megalópole? Explorar essa possibilidade é o que o dramaturgo Ed Anderson pensou ao escrever “Piso Molhado”, cuja estreia nos palcos ocorre nesta sexta-feira, 5 de julho, no teatro Cacilda Becker. Estão no elenco Patrícia Gasppar, que comemora 35 anos de carreira; Helio Cicero, Carlos Palma e Valéria Pedrassoli. A direção é de Mauro Baptista Vedia.

Na história, a cantora decadente Selma coleciona aranhas, o velho pianista Tony está desiludido e sente falta do passado e o encanador Osvaldo, sem emprego fixo, vive de bicos e precisa enfrentar os obstáculos impostos pela cidade. Sem conseguirem escapar da realidade caótica à sua volta e de suas próprias neuroses, as personagens fazem ácidas autocríticas.

Com seu texto, Anderson procura criar uma reflexão sobre o lugar de cada um e resgatar o sentimento de brasilidade. “Tentei transpor ao papel a urgência que sentia em abordar sentimentos de algumas minorias e friccionar as suas vozes com o momento atual em que vivemos, proporcionando uma reflexão sobre o lugar do outro e de como a arte pode ser uma vitamina para fortalecer o cotidiano. Estão presentes nos diálogos as relações de sobrevivência, questões da memória afetiva e o humor ácido e melancólico dos personagens, que transitam anonimamente pelo asfalto com as suas mazelas e encantamentos, tendo cuidado com os ‘pisos molhados’ ao recordar as várias quedas sofridas”, explica o autor.

A peça tem como base a cultura nos anos 50 e 60, especialmente como a música, o cinema e a TV retrataram essas décadas. “Buscamos como referência cantores como Dalva de Oliveira, Maysa, Dolores Duran, Nelson Gonçalves e Cartola”, conta o diretor. O apelo à cultura brasileira é uma característica marcante no espetáculo. “A peça é um cabaré, quase um musical, porque inserimos trechos de várias canções. Procuramos resgatar uma Era de Ouro da cultura brasileira e a brasilidade, justamente neste momento em que o país passa por um momento de baixa autoestima.”
A montagem foi selecionada pela 8ª edição do Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura. O ingresso é gratuito.

Por Luiz Quesada

| Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa. Tel. 3864-4513. De 5 a 28/7. 6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. Grátis (retirar ingresso uma hora antes). 70 min. 12 anos