Cia. Mungunzá de Teatro apresenta os cinco espetáculos de seu repertório

Temporada se inicia dia 21 de junho, no Teatro Cacilda Becker, e tem entrada franca

Teatro e ousadia é a fórmula que traduz a essência da paulistana Cia. Mungunzá. Além de produzir espetáculos complexos e impactantes, arriscou ao inaugurar um teatro, sua atual sede, em uma área pouco frequentada à noite na cidade de São Paulo, a da Luz, perto da região conhecida como Cracolândia. Lá, abriu em 2017 o Teatro de Contêiner Mungunzá. Formado por 11 contêineres marítimos dispostos em uma praça abandonada, o espaço, além de ter dado certo, atraindo um público assíduo para assistir a espetáculos e frequentar festas, foi indicado a vários prêmios e ganhou pela iniciativa o Especial da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Com mais de 12 anos de pesquisa dramatúrgica em São Paulo, a companhia dá início no dia 21 de junho, no Teatro Cacilda Becker, na zona oeste, a uma mostra com todos os cinco espetáculos –um deles infantil– que compõem seu repertório. A peça que abre a temporada é “Epidemia Prata”, de 2018, a mais recente do grupo. Além do Cacilda Becker, outros três espaços da Secretaria Municipal de Cultura recebem a mostra. Em julho, é o Teatro Flávio Império, na zona leste, e os outros locais ainda não foram definidos. O projeto de circulação que chega a quatro regiões da cidade foi concretizado por meio do Prêmio Cleyde Yáconis, da Secretaria. A entrada é franca, e deve-se retirar ingresso uma hora antes.

Mostra de repertório
A Cia. Mungunzá de Teatro foi fundada em 2006 a partir de uma pesquisa sobre a obra do dramaturgo alemão Bertold Brecht. O estudo foi realizado em parceira com o diretor Nelson Baskerville e deu origem, em 2008, ao primeiro espetáculo do grupo, “Por Que a Criança Cozinha na Polenta?”, dirigido pelo próprio Baskerville. A história acompanha o exílio de uma família romena circense pela Europa, sob a ótica da filha adolescente. A montagem recebeu cerca de 30 prêmios, inclusive na Suíça e na Alemanha.

Em 2011, chega aos palcos “Luis Antonio-Gabriela”, peça que conta a comovente trajetória de vida do irmão de Baskerville, que se tornou travesti. A encenação também recebeu premiações importantes, como Shell-SP e APCA.
“Era uma Era” traz um rei que deseja a todo o custo dar um nome ao seu reino. Primeiro trabalho infantojuvenil da companhia, o espetáculo estreou em 2015, mesmo ano em que entrou em cartaz a peça adulta “Poema Suspenso para uma Cidade em Queda”, que acompanha a vida dos moradores de um prédio enquanto o corpo de uma pessoa, que se atirou do edifício, nunca chega ao chão.

Em 2018, o grupo estreou “Epidemia Prata”, espetáculo que celebrou os dez anos da companhia nos palcos. Com texto autoral e supervisão dramatúrgica de Verônica Gentilin, a peça leva à cena a insensibilidade do ser humano e o fim da sutileza. “Faço, junto com a Cia. Mungunzá, um alerta desse endurecimento, do parafuso emperrado que não deixa o mundo girar como deveria, mas que também nos coloca como observadores dessa miséria”, conta a diretora Georgette Fadel.

Por Luiz Quesada

Veja a programação do Teatro Cacilda Becker
| Grátis (retirar ingresso uma hora antes)

Junho

Espetáculos Adultos

Epidemia Prata
Argumento e texto: Cia. Mungunzá de Teatro. Elenco: Gustavo Sarzi, Leonardo Akio, Lucas Beda, Verônica Gentilin e outros. 60 min. 16 anos.
O espetáculo mescla duas linhas narrativas: a visão pessoal dos atores sobre os personagens reais que conheceram em sua atual residência na Cracolândia e o Mito de Medusa, que transforma pessoas em estátuas. Partindo desse mote, os artistas adquirem, aos poucos, a cor prata, até estarem completamente prateados ao final do espetáculo. Repleto de imagens e predominantemente performático e sinestésico, o universo prata assume na montagem diversas conotações: sua cor é a da pedra de crack quando acesa, sua luz traz o brilho e a necessidade de ser vista por uma sociedade que ignora determinados guetos, sua designação indica riqueza, dinheiro. Transitando entre essas conotações, os atores realizam uma infinidade de performances que desconstroem personagens estigmatizados pela sociedade, compartilhando a sensação de petrificação diante de tudo.
| De 21 a 23/6. 6ª, sáb. e dom., 17h

Poema Suspenso para uma Cidade em Queda
Direção: Luiz Fernando Marques (Lubi). Dramaturgia: Cia. Mungunzá de Teatro e Luiz Fernando Marques (Lubi). Elenco: Verônica Gentilin, Virginia Iglesias, Lucas Beda, Marcos Felipe e Sandra Modesto. 70 min. 14 anos.
Uma pessoa cai do topo de um prédio e não chega ao chão. Os anos passam e toda a vida dos moradores desse local se congela em seus próprios traumas, enquanto aquele corpo permanece em suspenso. Após 33 anos, o corpo continua "sem cair", e as histórias de cada morador se amarram de formas inusitadas. Presos numa espécie de "buraco negro pessoal", os personagens vivem uma experiência que não finaliza, gira em círculos e ignora seu entorno. Trata-se de uma fábula contemporânea sobre a sensação de suspensão e paralisia geral do mundo.
| De 27 a 29/6. 5ª, 6ª e sáb., 19h

Espetáculo infantil

Era uma Era
Direção e dramaturgia: Verônica Gentilin. Atores-criadores: Leonardo Akio, Lucas Beda, Marcos Felipe, Pedro Augusto, Sandra Modesto e Virginia Iglesias. Narração: Gabriel Manetti. 70 min. Livre.
Uma caixa se abre e de dentro dela surgem todas as personagens do espetáculo. Inicia-se a história do Grande Reino Ainda Sem Nome. Barba Rala, rei dessas terras, deseja a todo custo entrar para a história e poder dar um nome ao seu reino. Para isso, é necessário que sejam preenchidas as 100 páginas do Grande Livro de Autos, que descreve todas as ações ocorridas por lá. Após um incêndio, o livro é destruído. Os habitantes são obrigados a recomeçar suas vidas do zero, agora em plena Era da Tecnologia. O reino volta a crescer e é preenchido por novas memórias, registros e selfies, até entrar em colapso novamente. Afinal, o que pode salvar definitivamente a memória de um reino?
| Dias 29 e 30/6. Sáb. e dom., 16h


Julho
Espetáculos Adultos

Luis Antonio-Gabriela
Direção e dramaturgia: Nelson Baskerville. Elenco: Day Porto, Fabia Mirassos, Lucas Beda, Marcos Felipe, Sandra Modesto, Verônica, Gentilin e Virginia Iglesias. 100 min. 16 anos.
O espetáculo fala da vida de Luis Antonio, irmão mais velho do diretor Nelson Baskerville que desafiou as regras de uma família conservadora dos anos 1960 ao se tornar travesti.
| De 5 a 7/7. 6ª e sáb., 19h. Dom., 17h

Por Que a Criança Cozinha na Polenta?
Texto: Aglaja Veteranyi. Direção e adaptação: Nelson Baskerville. Elenco: Lucas Beda, Marcos Felipe, Sandra Modesto, Verônica Gentilin e Virginia Iglesias. Músico: Gustavo Sarzi. 80 min. 16 anos.
Baseado na obra da escritora romena Aglaja Veteranyi, a montagem foi adaptada por Nelson Baskerville, que também assina a direção. Narrada por uma adolescente que se defende da degradação pela ótica infantil, a peça é ao mesmo tempo lírica e cruel. A mãe se pendura no trapézio pelos cabelos e o pai é um palhaço que não acredita em Deus. Enquanto em seu exílio excursiona pela Europa Central, a menina, ao lado da irmã mais velha, é arremessada de encontro ao despedaçamento de todos os seus ideais, pagando um preço por cada um deles.
| Dias 11 e 12/7. 5ª e 6ª, 19h. Dia 14/7. Dom., 17h