“Gota d’Água Preta” traz obra de Chico Buarque encenada pelo Coletivo Negro

Musical entra em cartaz no Centro Cultural São Paulo a partir de 8 de março

Escrito pelo poeta Paulo Pontes e pelo compositor Chico Buarque em 1975, o musical “Gota d’Água” trazia aos palcos brasileiros uma versão ambientada nos morros cariocas do mito grego Medeia –batizada aqui de Joana–, esposa abandonada que mata os próprios filhos em um ato de vingança contra o marido, Jasão. O Coletivo Negro fez uma adaptação da obra e lhe deu o nome de “Gota d’Água Preta”, já que atores negros interpretam os protagonistas. O espetáculo entra em cartaz dia 8 de março, no Centro Cultural São Paulo.

Para Jé Oliveira, diretor do espetáculo e fundador do coletivo, o texto é de uma atualidade espantosa. “A peça foi criada em plena ditadura, mas é como se ela tivesse sido escrita ontem, em vários sentidos”, explica. Ele ressalta a crueldade econômica contra a população, a discussão sobre ascensão social e a corrupção dos poderosos, por exemplo. “São temas colocados de um modo muito potente na peça.”

Oliveira optou por manter a ambientação do espetáculo nos anos 70. “É para mostrar que se trata de um passado que não passa”, afirma. “As questões continuam as mesmas, algumas até pioraram”. Entretanto, a montagem atualizou a trilha sonora, colocando até músicas dos Racionais MCs. “Isso fortalece a distância temporal da ação da peça com os dias de hoje.”

Ao colocar em cena atores negros, o musical aprofunda a discussão sobre questões raciais e sociais. “Todas essas mazelas são sofridas, sobretudo, por pessoas pretas e pobres, então a presença preta em cena aprofunda esse dado”, conta o diretor. O espetáculo traz também cantos de religiões africanas, como a umbanda e o candomblé. “Refletir a beleza desse tipo de religião é muito importante”, conclui.

Por Gabriel Fabri

| Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel. Rua Vergueiro, 1.000. 160 min. 14 anos. De 8 a 24 de março. 6ª e sáb., 20h. Dom., 19h. R$ 30