Theatro Municipal apresenta "Turandot"

Grandiosa e derradeira ópera de Puccini é encenada a partir do dia 16

O universo da ópera chinesa com estética que remete aos anos 1960; o terreno da fantasia e dos contos de fadas; os bastidores de um teatro, em um exercício de metalinguagem: esses são os três mundos que se mesclam em Turandot, última ópera composta pelo italiano Giacomo Puccini e que estreia no dia 16, no Theatro Municipal de São Paulo. “O conceito da montagem é como diferentes universos e diferentes tempos convivem juntos”, explica o diretor André Heller-Lopes. O espetáculo tem acompanhamento da Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência do maestro Roberto Minczuk. O Coro Lírico, regido por Mário Zaccaro, e o Coral Paulistano, dirigido pela maestrina Naomi Munakata, também participam das apresentações.

Para Heller-Lopes, a escolha do número de mundos não é aleatória. Afinal, a princesa chinesa Turandot, que busca vingar uma ancestral que fora violentada e assassinada, propôs um desafio para os seus pretendentes: teriam que solucionar três enigmas para ganhar a sua mão; caso o contrário, seriam condenados à morte. “O número três se repete constantemente na ópera: três enigmas, três batidas de gongo, três máscaras da Commedia Dell’Arte, três atos”, explica Heller-Lopes. “Até a tonalidade da música associada por Puccini à princesa, mi bemol, possui três acidentes [representação gráfica que indicaa modificação da altura da nota na partitura]”, diz.

Adaptando um antigo conto de fadas, a história da ópera é, no fundo, a jornada de Turandot para encontrar a sua própria liberdade no amor, segundo o diretor. “São personagens profundamente marcados pelo passado, seja Turandot por uma impressão de uma história que ela ouviu, seja Calaf por ser um príncipe que perdeu tudo”, explica. “É uma jornada para se livrar desses fantasmas”. Calaf é o filho do rei da Tartária, que foi banido de seu trono e, sem revelar sua verdadeira identidade, aceita o desafio dos enigmas.

O teatro dentro do palco

Para trazer todos esses universos à cena, o cenógrafo Renato Theobaldo criou uma estrutura conceitual, que ultrapassa a mera necessidade descritiva de um palácio. “Não estamos criando um palacete exatamente e isso enriquece, criando novas nuances de leitura para o público. O palácio é, na verdade, também um teatro, que tem uma trupe no meio dele que vai encenar a Turandot”, explica Theobaldo. A estrutura divide o espaço cênico entre realidade e fantasia e, do lado da fantasia, há uma área que lembra uma caixa, onde está a trupe. A trupe é representada pelos solistas, enquanto os coralistas, ao lado de fora dessa “caixa”, simbolizam o público desse teatro – ao todo, 170 artistas sobem ao palco nessa montagem.

Por Gabriel Fabri