“Jornada de Um Imbecil até o Entendimento” estreia no CCSP

Texto do dramaturgo paulista Plínio Marcos, conhecido por retratar os submundos urbanos, foi selecionado pelo Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura, e inspirou comédia circense em cartaz no CCSP

Seis mendigos vivem pelas ruas da cidade e se encontram em uma estação de trem abandonada. Entre eles, apenas dois possuem chapéus, um acessório importante na hora de pedir esmolas. Essa é a premissa de Jornada de um Imbecil até o Entendimento, comédia circense que chega ao Espaço Cênico Ademar Guerra, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), a partir do dia 9. Com texto de Plínio Marcos, a montagem homenageia o autor, cuja morte completa 20 anos em 2019, utilizando o realismo fantástico como linguagem.

Para Helio Cicero, diretor da peça, o chapéu funciona como o símbolo do poder entre os personagens: “É por meio dele é que existe a dominação, a coação”. A relação entre Mandrião, um dos que possuem o acessório, e os outros personagens, se torna praticamente a de um senhor e os seus escravos. “Esse microcosmo de personagens pode ser apresentado em qualquer sociedade e em qualquer época, que haverá a imediata identificação do público com ele, porque esses mendigos representam o sistema de domínio, exploração e poder no qual ainda vivemos”, completa.

Cicero destaca a estrutura não convencional da dramaturgia. “O fato de não existir a figura de um protagonista e de um antagonista, ou de um herói, é um elemento desafiador”, comenta. Apesar disso, o diretor reconhece que Teco é o personagem de maior impacto, pois é ele quem ajuda Mandrião a dominar os outros miseráveis. “Ele faz a manipulação recorrendo ao medo e articula uma espécie de tripé de dominação, usando o Poder, a Religião e o Intelecto”, explica.

Interpretado por Fernando Trauer, Teco remete a um palhaço típico, que tem como uma de suas características uma postura ereta e de superioridade. “Por isso, o diretor quis elevá-lo fisicamente em relação aos outros personagens e sugeriu o salto alto, o que lhe dá estatura e postura”, explica o ator. Para ele, seu personagem é um estrategista nato e utiliza todos os seus recursos para conseguir o que quer.

QUEM FOI PLÍNIO MARCOS
Nascido em Santos, litoral paulista, Plínio Marcos foi um dos mais importantes autores do teatro brasileiro moderno. Dramaturgo de estilo único, ele é apontado como renovador de padrões teatrais por meio de um foco naturalista que imprime em seus personagens, característica que podem ser notada, por exemplo, nos diálogos. Em 1966, estreou na montagem Dois perdidos numa noite suja, que é um de seus textos mais famosos, que ganhou centenas de encenações. Também é autor de Navalha na carne, Abajour lilás e Jornada de um imbecil até o entendimento.

Por Gabriel Fabri

Apresentações:
| Centro Cultural São Paulo. Espaço Cênico Ademar Guerra.
|De 9/11 a 16/12. Sex. e Sáb., 21h. Dom, 20h. R$ 30.
|Dia 17/11, Sáb., 17h. Com tradução em Libras. Grátis (ingresso com 1 hora de antecedência)
|Dia 18/11, Dom., 20h. Ingresso a preço popular: R$ 3.