Peça “Necropolítica” estreia no CCSP

Espetáculo encerra a 4ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos

 Todo ano, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) premia os textos teatrais mais criativos e originais enviados para o Edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos. Depois de selecionados, os espetáculos têm a oportunidade de estrear em uma mostra que, em 2018, é encenada no Espaço Adhemar Guerra, reaberto no início do ano.

Após as temporadas de “As 3 Iaras de SP City” e “Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã”, que permanece em cartaz até dia 15, é a vez de #Necropolítica#, peça dirigida por Aury Porto e escrita por Marcos Barbosa. Com estreia no dia 20, o espetáculo retrata uma sociedade distópica em crise, na qual os mortos surgem como uma nova classe social, exigindo direitos de cidadão. “A peça não é uma suposição de futuro, é um comentário sobre as crises que vivemos hoje na tentativa de construir uma sociedade mais plural”, explica o autor. “Tudo o que se debate diz respeito à ética, ao saber de si em meio aos outros”, completa. Já o diretor, por sua vez, destaca a reflexão sobre a importância da morte. “Necropolítica nos desafia a olharmos para nós mesmos e darmos atenção à nossa obsessão pela vida sem a morte”, conta Porto. “É viável? Nos interessa? A morte não é inerente à humanidade?”, indaga.

O dramaturgo acredita que a história da peça funcionaria bem como uma única narrativa convencional, mas optou por criar um mosaico. “Foi muito tentador ‘explodir’ a narrativa de modo a apresentar, a partir de fragmentos, esse mundo de ficção”, diz. A estrutura do espetáculo é uma referência ao alemão Bertolt Brecht, em textos como “Terror e Miséria no Terceiro Reich” e “Na Selva das Cidades”, que também contam narrativas fragmentadas.

A dramaturgia foi construída a partir da cena que marca o reencontro de um arquiteto com sua mulher morta, uma “necropolítica”. “Nesse terreno obviamente ficcional, de contornos propositalmente opostos, os personagens envolvem-se em situações extremas, por vezes até caricatas”, afirma o autor. Para o diretor, a trama mais interessante é a que transcorre em um cinema. “Talvez pelo fato de que a necrofilia presente nesse quadro me intrigue e me cause repulsa”, confessa Porto. “Ao mesmo tempo, é a história mais engraçada”, finaliza.

Buraquinhos

Um jovem negro da periferia de São Paulo sai de casa para comprar pão e, ao longo do dia, leva 111 tiros. Essa é a premissa de “Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã”. Para contar essa história, escrita por Jhonny Salaberg, a diretora Naruda Costa pensou em uma encenação simples, mas que possibilitasse que os atores combinassem os elementos em cena de acordo com o necessário para cada momento do texto. “Estamos tratando de uma ferida aberta e, portanto, um ‘jogo aberto’ poderia ser uma alternativa interessante de abordagem”, explica Naruda.

Por Gabriel Fabri

Apresentações: Centro Cultural São Paulo - Espaço Cênico Adhemar Guerra. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001 e 3397-0002. Buraquinhos ou o Vento é Inimigo do Picumã. +12 anos. 120 min. Até dia 15. +14 anos. 80 min. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 20 / Necropolítica. +14 anos. 80 min. De 20/7 a 5/8. 5ª a sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 20 (dia 26/7, preço popular: R$ 3)