João Guimarães Rosa é relembrado em evento no CCSP

O Nome do Rosa marca 50 anos sem o escritor com mostra de filmes, palestras, intervenções artísticas e leitura dramática

Se houve um escritor brasileiro que retratou de forma incomparável as peculiaridades do nosso sertão, foi João Guimarães Rosa. Explorando a língua portuguesa em suas mais diversas possibilidades, criou neologismos, valorizou o regional e expressou uma realidade única, tornando-se um dos mais importantes escritores nacionais.

Em novembro deste ano completam-se 50 anos de sua morte e, para homenageá-lo, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) preparou uma programação especial, nos dias 8 e 9. Batizada de O Nome do Rosa, a atividade reúne mostra de filmes, palestra, intervenção artística e leitura dramática, explorando Guimarães nas mais diversas expressões culturais.

Intervenção
No dia 9, o ator e diretor Luiz Carlos Vasconcelos realiza uma intervenção artística, relembrando sua experiência no espetáculo Vau da Sarapalha, do qual foi diretor. A peça é inspirada no conto “Sarapalha”, da obra Sagarana.
A montagem foi apresentada pela primeira vez em 1992 e realizada pelo grupo paraibano Piollin. No ano 2000, fez temporada no CCSP. Vasconcelos relembra que o conto não foi realmente adaptado para o teatro, mas transcrito da narrativa literária para a escrita dramatúrgica. “A peça é escrita como está em Guimarães, que é o que impressiona tanto: os neologismos, esse reavivamento dos sentidos. Essa é uma das grandes marcas dele e nisso não mexemos. Como é um conto de muito pouco diálogo, pegamos expressões de Guimarães enquanto narrador e botamos na boca dos personagens, de tão bonito que era”, explica.

Segundo ele, “Sarapalha” retrata dois tipos de problemas que ainda podem ser identificados na sociedade brasileira atual. O primeiro, de ordem geográfica e social. “Quanto maior o grotão no sertão, quanto mais distante, a doença e a miséria vão continuar existindo”, afirma. O outro é o aspecto humano. “O conto fala de amor, ciúme, perda, vingança. E esses são valores e temas eternos. Daí a universalidade e a imortalidade da obra de Guimarães, especificamente no conto ‘Sarapalha’.”

Nos livros

Também no dia 9, acontece o encontro Traduzindo Rosa, que aborda a tradução do escritor para outros idiomas, bem como para diversas linguagens. Os convidados são a tradutora literária australiana Alison Kay Entrekin e o ilustrador Odilon Moraes.

Radicada no Brasil, Alison já traduziu livros de Chico Buarque, Clarice Lispector, Paulo Lins, Adriana Lisboa e Cristovão Tezza e, atualmente, prepara uma nova tradução para o inglês de Grande Sertão: Veredas, com apoio do Itaú Cultural. “Nunca estive tão obsessiva, deslumbrada e arrebatada ao mesmo tempo. É uma imersão total, com leituras constantes sobre tudo e qualquer coisa que diz respeito ao livro e à obra de Guimarães Rosa”, conta a tradutora, que planeja uma visita ao sertão de Minas Gerais para entrar em contato com a topografia, a toponímia e a população da região. “Preciso me situar geograficamente, escutar a fala do sertão, pôr um pé nessas veredas”, diz.

Nas telas

Guimarães Rosa também será relembrado com uma maratona de filmes que busca apresentar o universo de suas obras no cinema. Na programação, serão exibidos três longas: as adaptações de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do diretor Roberto Santos, em versão restaurada; e de Mutum, uma produção baseada no livro Campo Geral, com direção de Sandra Kogut em parceria com Thiago da Silva Mariz, Wallison Felipe Leal Barroso, João Miguel e Rômulo. Também será exibido o documentário Aboio, de Marília Rocha, que capta de forma poética a vida dos vaqueiros nos sertões. As exibições acontecem no dia 8, a partir das 16h.

Nos palcos
No dia 8, a BoadaPeste Cia. de Teatro faz a leitura dramática de seu primeiro trabalho, baseado no conto “A Terceira Margem do Rio”, publicado em Primeiras Estórias. A diretora Jéssica Nascimento e o músico-regente Alexandre Guilherme convidam atores e diretores de outras companhias teatrais para uma investigação artística sobre o masculino e as relações patriarcais em contos de Guimarães Rosa.

Por Luisa Bittencourt

Serviço:


Dia 8/11
Mostra de Cinema
16h
Mutum
(2007, 90 min, 35mm)
Thiago da Silva Mariz, Wallison Felipe Leal Barroso, João Miguel
Mutum é um local isoldado do sertão de Minas Gerais, onde vivem Thiago e sua família. Thiago tem apenas 10 anos e, juntamente com seu irmão e único amigo Felipe, é obrigado a enxergar o nebuloso mundo dos adultos, que contem um bando de vizinhos primitivos e o seu grosseiro e bruto pai.
Sala Lima Barreto
18h
Aboio
(2003, 73 min, 35mm)
Filmado em Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, o documentário relata um costume dos sertões brasileiros: o aboio. Pecorrendo o interior do país, o longa acompanha a jornada dos últimos cultores fiéis ao canto de trabalho.
Sala Lima Barreto
19h30
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
(1965, 113 min, DCP)
Leonardo Villar, Joffre Soares, Maria Ribeiro
Augusto Matraga é um fazendeiro violento, que é traído pela esposa, emboscado por seus inimigos, acaba massacrado e é dado como morto. É salvo por um casal de negros e, desde então, volta-se para a religiosidade. Mas quando conhece Joãozinho Bem Bem, um jagunço famoso, este percebe nele o homem violento. Daí em diante Matraga vive o conflito entre o desejo e a vingança e sua penitência pelos erros cometidos.
Sala Lima Barreto
Leitura Dramática
19h30
"A terceira margem do rio", com BoadaPeste Cia. de Teatro
Espaço Mário Chamie


Dia 09/11
Intervenção artística
19h
Vau da Sarapalha
Com Luiz Carlos Vasconcelos
Espaço Mário Chamie
Palestra
19h30
Traduzir Rosa - Alison Kay Entrekin
Com Odilon Moraes (Ilustrador). Mediação: Ronaldo Bressane
Espaço Mário Chamie
Grátis

| Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001