“Aproximando-se de A Fera na Selva” estreia no porão do Centro Cultural São Paulo

Peça fala de coisas que as pessoas deixam de dizer; em cartaz entre 2 de fevereiro e 11 de março

John é um homem que possui uma certeza: um dia, sua vida será marcada por um grande acontecimento, algo que ele não sabe precisamente o que é, mas que mudará sua trajetória para sempre. Junto com sua amiga May, os dois passam a vida esperando o tal fato ocorrer.

Essa é a história de “A Fera na Selva”, novela do escritor inglês Henry James (de “A Volta do Parafuso”). O romance, com traços autobiográficos, é fonte de inspiração para a peça “Aproximando-se de A Fera na Selva”, que estreia no dia 2 de fevereiro, no Espaço Ademar Guerra, o chamado ‘porão’, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Além do livro, o texto teatral de Marina Corazza tem como base as biografias de James (1843-1916) e de sua amiga, a também escritora Constance Fenimore Woolson (1840-1894).

“A peça fala sobre coisas que a gente deixa de dizer, sobre relações no espaço do não dito”, afirma a diretora Malú Bazán. De fato, “A Fera na Selva”, escrito dez anos após a morte de Constance, parece marcado pela melancolia do autor com relação ao que poderia ter sido e não foi. “Na obra, os personagens aguardam, e a vida passa”, sintetiza Malú. “E isso tem muito a ver com a história pessoal de Henry James, que viveu a Guerra Civil, mas não foi lutar, ficou olhando pela janela.”

Para a concepção do espetáculo, a diretora inspirou-se nas artes plásticas e encontrou nas telas do norte-americano Edward Hopper a melancolia de pessoas solitárias. “Os quadros dele trazem seres profundamente sozinhos, que não se olham”, explica. “No palco, os personagens dialogam o tempo todo, mas sem realmente se expor. Há a solidão de estar no mesmo lugar sem realmente estar”. Outros dois pintores também foram referência para a peça: o surrealista belga René Magritte e o impressionista francês Claude Monet.

Em cena, os atores Gabriel Miziara e Helô Cintra vivem cada um três personas diferentes: Henry e Constance, os personagens da vida real; John e May, os personagens do livro; ator e atriz, trazendo a si mesmos para a peça. O espetáculo brinca o tempo todo com essa triplicidade de personalidades, de início bem definidas, para, depois, suas vozes se misturarem e confundirem.

Tendo como tema central a relação entre homem e mulher e suas diversas facetas, “Aproximando-se de A Fera na Selva” leva também um jogo de camadas ao palco underground do CCSP, que possui em si a dualidade de estar e não estar em um teatro. “Você entra em um espaço vazio, o ‘porão’, e o local se monta e desmonta a partir de camadas de cortinas que os personagens vão abrindo e fechando”, conclui a diretora.

Por Gabriel Fabri

Apresentações
Centro Cultural São Paulo – Espaço Ademar Guerra. De 2/2 a 11/3. 5ª a sáb., 21h. Dom., 20h. Grátis