Peça "O Jardim" aborda a delicada questão da memória

Em comemoração aos 10 anos da Cia. Hiato, o espetáculo volta aos palcos entre os dias 9 e 25 de fevereiro, no Teatro João Caetano

Já parou para pensar sobre o que seria de nós sem nossa memória? Não saberíamos, por exemplo, onde estamos, o que faremos, nem sequer conseguiríamos estabelecer quem somos. Essa questão está presente no espetáculo “O Jardim”, da Cia. Hiato. Nele, a memória é a principal protagonista. Com dramaturgia e direção de Leonardo Moreira, a peça estreou em 2011 e recebeu oito prêmios, dentre eles o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Direção, o Shell de Autor e o Governador do Estado de Melhor Espetáculo, categoria que também foi escolhida pelo Guia da Folha. Em comemoração aos 10 anos da companhia, “O Jardim” é reencenado entre os dias 9 e 25 de fevereiro, no Teatro João Caetano.

A peça

Construído a partir de um estudo sobre Alzheimer feito por meio de entrevistas com idosos e depoimentos dos próprios atores, o processo de criação do espetáculo foi norteado por três perguntas: Quais são as memórias que você não consegue apagar? Existe alguma que você não quer esquecer? E outras que você gostaria de ter, mas não teve?

Além disso, livros importantes também inspiraram a dramaturgia, entre eles Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e a autobiografia do neurologista Eric Kandel. O título faz uma referência ao clássico O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekov.

A encenação

A plateia fica disposta em três arenas que têm o propósito de fazer com que o público esteja sempre conectado às três ações que se desenvolvem ao mesmo tempo. Enquanto um fragmento termina, uma nova cena começa. “O intuito é fazer com que as pessoas percebam que a trajetória dos anos que se passam entre as narrativas acontece apenas na nossa memória, e que o único tempo da peça é feito de tempos sobrepostos”, explica Leonardo Moreira.

A conexão entre as histórias, situadas em 1938, 1979 e 2018, dá-se em meio a um aglomerado de caixas de papelão que reflete sobre mudanças, despedidas e desamparos. Os atores usam os próprios nomes para os personagens, e os diálogos giram em torno de assuntos como família, amor, dinheiro, vida e morte. Segundo o autor e diretor, cada ato tem um destino: futuros soterrados, presentes inventados e coisas que duram mais do que pessoas. “A memória está totalmente ligada ao que nós somos e, consequentemente, ao que vivemos. Em “O Jardim”, há uma troca de experiências entre nós e o público, e é por meio dela que a gente se percebe, se reconhece e se identifica.”

Por Juliana Pithon

Serviço:

| Teatro João Caetano. Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino. Zona Sul. Tel. 5573-3774| 14 anos Dias 09/02 a 25/02, ás sextas-feiras e aos sábados, ás 21h e aos domingos, ás 19h. Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)