Grupo XIX de Teatro reencena o sucesso “Hysteria”

Peça teatral traça um paralelo entre a condição da vida das mulheres no século 19 e as transformações sociais da luta feminista contemporânea

No século 19, “histeria” era o diagnóstico concebido à maioria das mulheres internadas nos manicômios por terem um comportamento “exagerado” de suas emoções. Baseado em fichas médicas originais da época, o texto “Hysteria”, do Grupo XIX de Teatro, foi escrito com o objetivo de discutir a repressão social do patriarcado que dava fruto aos sintomas da “doença”. A companhia estreou a peça em 2001 e ganhou 5 prêmios, dentre eles o de revelação teatral pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). O núcleo retoma o espetáculo e se apresenta entre os dias 13 de janeiro e 7 de fevereiro em Casas de Cultura, no Centro Cultural do Jabaquara e no Teatro Flávio Império.

“O maior intuito da dramaturgia é causar uma provocação a respeito do termo ‘histeria’ que era dado como patológico, mas na verdade sempre foi social. À medida que as mulheres tinham acesso ao conhecimento, percebiam a necessidade de luta pelos seus direitos. Quem não cumpria a função de reproduzir, cuidar da casa, do marido e dos filhos era considerada subversiva. Sexualidade, aborto e voto era assunto de mulher histérica”, explica Luiz Fernando Marques, diretor do espetáculo.

Assim como no hospício, na peça, a plateia é dividida em ala das mulheres e ala dos homens. A proposta é colocar a mulher do presente de frente para mulher do passado para que elas conversem sobre o que aconteceu e o que mudou. Enquanto isso, a voz dos homens não existe e eles assumem o papel de observadores. Para Marques, “é um exercício de reflexão de como a sociedade machista enxerga e lida com a mulher. É para responder ‘o que esse mundo que eu estou vendo tem a ver comigo?’”, explica.

Por ser um espaço de troca, o texto é recriado a cada dia de apresentação. As cinco mulheres do elenco compartilham suas histórias e ouvem outras. “É uma literatura que representa os séculos passados, mas que diz muito sobre hoje. Ela confirma que o machismo está impregnado e que a mudança é evidente, mas a gente só entende quando olha pra trás”, conclui Marques.

Marcado pela dramaturgia de cunho social e político, há 16 anos o Grupo XIX de Teatro, formado no Centro de Artes Cênicas da USP, desenvolve pesquisas em torno da exploração de espaços não usuais e do público como atuador durante os espetáculos. O trabalho contínuo da Companhia conquistou uma trajetória internacional e uma série de prêmios. Nos 30 anos de comemoração do Prêmio Shell de Teatro 2018, a Companhia foi indicada à categoria Inovação pela manutenção da sede na Vila Maria Zélia e pela parceria com diversos artistas.

Por Juliana Pithon

Serviço:

| Centro de Culturas Negras do Jabaquara. Rua Arsênio Tavolieri, 45, Jardim Oriental. Zona Sul. Tel. 5011-2421| Livre. Dia 13/01, 16h. Grátis

| Casa de Cultura do Campo Limpo. Rua Aroldo de Azevedo, 100, Jardim Bom Refugio. Zona Sul. Tel. 5841-8164| Livre. Dia 17/01, 19h.

| Casa de Cultura Vila Guilherme - Casarão. Praça Oscar da Silva, 110, Vila Guilherme. Zona Norte. Tel. 2909-0065| Livre. Dia 20/01, 18h.

| Casa de Cultura Itaim Paulista. Rua Monte Camberela, 490, Vila Silva Teles. Zona Leste. Tel. 2963-2742| Livre. Dia 21/01, 18h.

| Teatro Municipal do Cangaíba Flávio Império. Rua Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba. Zona Leste. Tel. 2621-2719 | Livre. Dia 27/01, 20h.

| Casa de Cultura do M’boi Mirim. Av. Inácio Dias da Silva, s/nº, Piraporinha. Zona Sul. Tel. 5514-3408 | Livre. Dia 07/02, 19h.