Espetáculo “Beija-me como nos livros” retrata a construção da ideia de amor romântico

Peça chega a partir do dia 5 ao Teatro Cacilda Becker, integrando o Circuito Municipal de Cultura


São encenados trechos de quatro mitos, retratando a forma de amar 
de cada época, desde o início da construção do amor romântico (Foto: Dalon Valério) 

Por Gabriel Fabri

Para encerrar a “trilogia do amor”, que começou em 2014 com os espetáculos “Amores” e “Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir”, a Cia. Os Dezequilibrados tinha como ideia inicial contar a história desse sentimento, desde o surgimento da palavra. Após uma pesquisa sobre o tema, o grupo resolveu mostrar como o ideal romântico do amor, predominante nos dias de hoje, foi construído ao longo da história. Assim surgiu o espetáculo “Beija-me como nos livros”, que chega dia 5 ao Teatro Cacilda Becker, a preço popular de 10 reais. A temporada vai até o dia 27 de fevereiro e integra o Circuito Municipal de Cultura. No final de semana dos dias 12 a 14, a entrada é gratuita.

A peça retrata dois casais contemporâneos. “Acontece de tudo entre eles, coisas que a gente vive na nossa vida amorosa”, conta Ivan Sugahara, dramaturgo e diretor do espetáculo. Paralelamente, são encenados trechos de quatro mitos – um de cada período histórico, retratando a forma de amar de cada época, desde o início da construção do amor romântico, englobando assim um período que vai do século XIII ao XVIII. “Tristão e Isolda”, representando a Idade Média; “Romeu e Julieta”, o renascimento; “Don Juan”, o iluminismo; e, por fim, “Werther”, de Goethe, representando o romantismo alemão. “Intercalando os casais dos dias de hoje e essas encenações, a gente vai vendo as influências desses mitos e fazendo ligações”, explica o diretor. 

Sugahara acredita ser interessante pensar no amor como uma construção cultural, e não como algo inato ao ser humano. “Na pré-história já existiam indícios de afeto entre os seres humanos, mas a ideia de amor como conhecemos é invenção”, afirma. “Antes da civilização, o homem era poligâmico e bissexual”. Entre as ideias que foram construindo, ao longo dos séculos, a ideia de amor, estão a idealização do outro, a completude, a monogamia e a fidelidade. “Cria-se também o adultério. É curioso perceber como todos esses mitos de amor são também histórias de traição”, completa o diretor. 

Durante o espetáculo, os atores utilizam o recurso teatral do “gromelô”, que consiste em falas incompreensíveis para o público, que entende os significados prestando atenção a outros detalhes, como a entonação da voz e a atuação dos atores.  “Esse uso é apropriado, pois o amor é uma língua universal, a gente não entende exatamente o que eles falam, mas entende as situações”, explica o diretor. Para Sugahara, o uso do gromelô também está ligado ao fato de que os personagens em cena não se entendem. “O amor é extremamente idealizado, você ama uma imagem que você faz do outro e ouve o que quer ouvir”, completa. 

Serviço: | Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa. Zona Oeste. | tel. 3864-4513. Dias 5, 19 e 26, 6ª, 21h. Dias 7, 21 e 28, dom., 19h. Dias 6, 20 e 27, sáb., 19h e 21h. R$ 10; Dia 12, 21h. Dia 13, 19h e 21h. Dia 14, 19h. Grátis