Heloisa Prieto participa de encontro na Festa Literária de Cidades Tiradentes

Ao lado de Victor Scatolim, escritora de livros infantis faz leitura de conto no dia 17, no Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes


Durante encontro, Heloisa Prieto deve ler o conto "Vovó Maria da Encruzilhada"

Por Gabriel Fabri

Um caminhoneiro dirige pela estrada acompanhado por um menino. Já é noite e o garoto escuta um barulho estranho. O motorista nega ter ouvido qualquer som, mas nenhum dos dois se atreve a checar a traseira do caminhão, com receio do que podem encontrar. Essa é a premissa da história “Vovó Maria da Encruzilhada”, de Heloisa Prieto. Escrito com o dinamismo que lembra um roteiro de cinema, priorizando os diálogos entre os dois personagens, o conto foi o escolhido pela autora para ser lido durante a Festa Literária de Cidades Tiradentes, que acontece entre os dias 11 e 19 na região da zona leste. Ao lado do poeta Victor Scatolim, com quem trabalha há cinco anos, a escritora participa de um encontro com os leitores no dia 17, no Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes.
 
Na ocasião, Heloisa pretende discutir a importância da leitura em voz alta. Inspirada pelo teórico suíço Paul Zunthor, pesquisador de narrativas orais no Brasil, a autora ressalta que ter consciência da voz do narrador é um requisito muito importante na hora de escrever histórias infantojuvenis. Ao tratar do assunto com os leitores, Heloisa pretende incentivá-los a narrar para outras pessoas. “Chega um momento em que você tem que ler para o outro também. É bom para si próprio”, explica. 

Misturando contação de história e teatro, o encontro terá também uma leitura cênica de um conto de Edgar Allan Poe, que deve ser interpretado por Scatolim. Já Heloisa selecionou para ler o texto de horror, “Vovó Maria da Encruzilhada”, publicado nas coletâneas “Loira do Banheiro” (Editora Ática) e “Rotas Fantásticas” (FTD). A história escolhida é inspirada em uma lenda que a escritora ouvia na fazenda em que morava durante a sua infância, na cidade de em Marília, no interior de São Paulo. A vovó do título é uma bruxa que perseguia os caminhoneiros e que batia no vidro de seus veículos. “Eu gostava de conversar com os caminhoneiros, que levavam as colheitas pela estrada. Eles tinham muitas histórias”, revela. 

Os contos de terror que Heloisa ouvia na infância são uma fonte de inspiração constante para o seu trabalho, que já acumula mais de 50 livros publicados. A autora revela que ainda pretende escrever a história de sua bisavó paterna, Maria Santiago Prieto, por conta de todas as narrativas que contava. “Ela me mostrou que a morte está sempre por perto. Por isso, ela celebrava tudo”, lembra. Nascida na Espanha, Maria viu os horrores da gripe espanhola, antes de imigrar para o Brasil. Pouco depois de chegar em Santos, encontrou um outro surto de epidemia na cidade. “Ela contava que era necessário tomar cuidado ao andar nos bondes, pois a pessoa sentada ao seu lado poderia estar morta, já que se morria muito de repente”, relembra. Heloisa acredita que, ao contrário do que diz o senso comum, contar contos de terror para crianças não é algo politicamente incorreto. Para ela, essas histórias são, no fundo, moralistas, no sentido de ser construtivo. “Acho importante brincar com essas coisas do sobrenatural com as crianças. Com a consciência do perigo e da finitude, valoriza-se a vida”, acredita a autora. 

Heloisa escreve para o público infantil desde 1987. Naquele ano, dava aula para crianças na Escola da Vila, em São Paulo. A mãe de uma de suas alunas, a jornalista Mônica Rodrigues, convidou-a a escrever um conto para o caderno Folhinha, na Folha de S. Paulo. Após publicar “Uma Armadilha para o Conde Drácula”, Heloisa nunca mais parou de escrever. “Todo mundo me pede para contar histórias, entrego um conto e me pedem mais dois. É muito estranho isso”, afirma, rindo. 

O lançamento mais recente de Heloisa é “A Vitória de Mairarê”, escrito junto com Scatolim. A personagem que dá nome à obra é inspirada na menina de seis anos Maitê Ará, uma índia da aldeia guarani Krukutu, em Parelheiros (zona sul de São Paulo). “É difícil ver histórias contemporâneas sobre os índios, que vivem entre dois mundos, o urbano e o rural”, declara. A autora se encantou com a menina que não gosta de brincar com a boneca Barbie e anda para todo lado com um tucano mal-humorado no ombro. Heloisa deve preparar uma continuação da história em breve, inspirada no tio da garota, o pajé Verá. 

A primeira edição da Festa Literária de Cidade Tiradentes (FLICT) acontece entre os dias 11 e 19 de setembro no Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, nos CEUs Inácio Monteiro e Água Azul e em diversos espaços da região. São, ao todo, 70 atividades que incluem encontros com escritores, apresentações musicais, oficinas e exibições de filmes. Saiba mais

Serviço: Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes. R. Inácio Monteiro, altura do nº 6.900, esq. com Rua Alexandre Davidenko, Cidade Tiradentes. Zona Leste. | tel.: 2555-2840. Dia 17, das 15h às 16h30