Biblioteca Alceu Amoroso Lima recebe Jeferson De após exibição de “Bróder”

Debate acontece dia 1º de setembro e integra o projeto “Encontro com o Realizador”


Para o diretor, mérito de "Bróder" é a abordagem do afeto e da amizade 
entre os três personagens principais

Por Gabriel Fabri

Uma cena de “Bróder”, longa-metragem de estreia de Jeferson De, mostra o retorno de Jaiminho (Jonathan Haagensen), agora um famoso jogador de futebol, à favela em que cresceu no Capão Redondo, bairro periférico de São Paulo. Enquanto os amigos demonstram alegria com a sua chegada, o corpo de um garoto morto estirado no chão passa quase despercebido pelos personagens e pela câmera. Cinco anos após o lançamento do filme, Jeferson De explica que incluiu o cadáver como um detalhe nessa cena porque, desse modo, ela representa a realidade brasileira. “Em Osasco morreram 18 pessoas esses dias, no filme eu apresento uma. A realidade é ainda pior”, pontua. A aproximação entre alegria e tragédia nas periferias, como na sequência descrita, marca o longa-metragem, que terá exibição gratuita na Biblioteca Alceu Amoroso Lima no dia 1º de setembro. Promovida pela Spcine, em parceira com a Revista de Cinema, a sessão integra o projeto “Encontro com o Realizador” e é seguida de um debate com o diretor.

Jeferson explica que “Bróder”, filme lançado em 2010, se insere no contexto de filmes sobre periferias, como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”, mas que transcende a problemática da violência, colocando também a questão da amizade. “O mérito do filme, olhando cinco anos depois, talvez seja a abordagem do afeto e da amizade entre os jovens”, declara. O longa conta a história de três amigos, Pibe (Silvio Guindane), Macu (Caio Blat) e Jaiminho. Este último retorna ao bairro para o aniversário de Macu, que não está com a cabeça boa para comemorações: ele precisa, naquele mesmo dia, fazer um serviço para livrar-se de uma dívida com um criminoso. Os dois colegas resolvem acompanhá-lo nessa perigosa empreitada. 

O cineasta acredita que o longa-metragem teve uma boa repercussão internacional pois há uma curiosidade sobre a cidade, que não é mostrada nos cinemas tanto quanto o Rio de Janeiro, por exemplo. “As pessoas fora do Brasil querem ver como funciona esse país por dentro, querem saber além da mulata, do carnaval e do futebol”, explica. Ele considera que “Bróder” é uma oportunidade também de apresentar os rincões da cidade de São Paulo para o resto do Brasil. “A periferia é um lugar muito extenso e enigmático”, define. 
 
O grande legado de “Bróder” é, para o diretor, mostrar que um negro é capaz de fazer cinema no Brasil, lançar comercialmente e exibir internacionalmente. “Mais do que ter pessoas negras nos papeis principais, uma coisa importante para muita gente é o fato de uma ter escrito, produzido e dirigido o filme”, explica. Ele lembra da curiosidade das crianças durante a gravação no Capão Redondo. Um garotinho teria perguntado “tio, como eu faço para fazer isso aí?”, questão que Jeferson respondeu com um incentivo para o menino nunca sair da escola. “As pessoas verem na capa de uma revista de grande visibilidade um negro que é o diretor do filme, isso muda muito. É o que realmente faz a diferença na vida de muita gente”, acredita. Para ele, apesar de os atores terem uma exposição pública maior, é o diretor e o produtor quem detêm poder sobre um filme, e esse é um espaço onde ainda poucos negros são vistos. 

Depois de “Bróder”, a expectativa do público era de que Jeferson produzisse um filme com a mesma temática de enfoque social. Mas o diretor tinha um projeto há tempos engavetado, que resultou no longa-metragem de suspense “O Amuleto”. “Quando você faz um primeiro grande filme, as pessoas aguardam uma coisa igual. Mas eu fiz questão de sair do meu lugar de conforto”, explica. A obra é um filme de gênero, o que permitiu uma série de experimentações, como na questão dos efeitos sonoros. “Terror tem esse privilégio, pude brincar, criar o som de um fantasma”, relata.  Além de explorar um novo gênero, o cineasta também mudou de cidade: filmou em Florianópolis (SC). 

Entre os dois filmes, Jeferson não vê a menor relação. “Essa diversidade para mim é importante. Nem todo diretor negro tem que fazer drama social. Isso é fundamental, esse nível de liberdade”, argumenta.  O diretor parece estar realmente interessado em se diversificar.  Atualmente, prepara o road movie “Contramão” e deve lançar no ano que vem o longa-metragem “Correndo Atrás”, comédia com o ator Lázaro Ramos, filmada no Rio de Janeiro. 

Serviço: Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima. Av. Henrique Schaumann, 777, Pinheiros, Próximo da Praça Benedito Calixto. Zona Oeste. | tel. 3082-5023 e 3063-3064. Dia 1º, 14h. Grátis