Imaginação e tecnologia unem duas óperas de um ato, no Theatro Municipal

Espetáculo fica em cartaz entre 22 de abril e 2 de maio

Por Gilberto De Nichille

Como dar unidade a um programa que reúne, no Theatro Municipal de São Paulo, duas óperas de um único ato tão opostas como “Um homem só”, do brasileiro Camargo Guarnieri, e “Ainadamar”, do argentino Osvaldo Golijov? O encenador e iluminador Caetano Vilela parece ter encontrado a resposta para a apresentação que estreia no dia 22. “Trabalho ambas as óperas de maneiras distintas, mas com uma linguagem moderna que dá unidade ao conjunto. Utilizo, para tanto, os inúmeros recursos técnicos oferecidos pelo Municipal, como luz, elevadores de palco e tules transparentes. Gosto que o público veja a técnica se transformando em magia cênica”, conta o diretor.

Em “Um homem só”, a história, de autoria de Gianfrancesco Guarnieri, descreve a solidão de um personagem simples, que não mais se reconhece frente ao seu grupo, sua família, sua cidade. “Optei por não fazer uma concepção realista como pede a história, mas, sim, por uma forma mais universal, que lembra a dos filmes mudos expressionistas”, diz Vilela. Em parceria com o cenógrafo Nicolas Boni, ele imaginou um cenário com prédios inclinados, rampas e declives, com elementos de cena carregados de uma simbologia mais metafórica, como, por exemplo, um grande relógio, diante do qual o protagonista anda, mas sem sair do lugar.

“Ainadamar” (que em árabe quer dizer “fonte de lágrimas”) tem como tema a morte do escritor Federico García Lorca durante a Guerra Civil espanhola. A história é contada pela personagem que representa a atriz Margarida Xirgu, amiga do poeta, dentro do teatro onde ela interpreta o papel da revolucionária espanhola Mariana Pineda, em uma peça escrita por Lorca. “Para lidar com este libreto metateatral [uma história dentro de outra], utilizamos um cenário mais limpo, cercado de grandes portas e um praticável de madeira no centro do palco, sobre o qual se dança um balé flamenco”, explica Vilela. Os objetos de cena surgem e desaparecem com efeitos de luz, cujos refletores estão à vista do público.

Da temporada lírica 2015 do Municipal, apenas estas duas obras são contemporâneas. Em 2010, Vilela foi o vencedor do Prêmio Shell de Iluminação pela peça “Dueto para um” e do troféu Carlos Gomes como iluminador de ópera.


Serviço: Theatro Municipal de São Paulo. Pça Ramos de Azevedo, s/nº, Centro. Bilheteria: 3397-0327, Dias 22, 24, 28, 30/4 e 2/5, 20h. Dia 26, 18h. R$ 50 a R$ 120
. +10 anos.