Documentários dão voz às vítimas da ditadura

Mostra “Marcas da memória” acontece entre os dias 15 e 27 na Galeria Olido


Em "Repara Bem", Maria de Medeiros enfoca o exílio
 por meio das memórias de mãe e filha


Por Gabriel Fabri


Com o intuito de ampliar as ações de reparação moral à sociedade brasileira devido aos 21 anos de autoritarismo que marcaram sua história, a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça coordena o projeto Marcas da Memória. Nessa iniciativa, inclui-se o fomento de documentários que abordam o período da ditadura brasileira. Numa parceria com as Secretarias Municipais de Direitos Humanos e Cidadania e de Cultura de São Paulo, doze dessas produções foram selecionadas para serem exibidas no Cine Olido, entre os dias 15 e 27, compondo a mostra que leva o mesmo nome do programa. Larissa Fonseca, chefe de gabinete da Comissão da Anistia, explica que o projeto atua em quatro frentes: publicações, coleta de história oral, audiências públicas e incentivo a iniciativas da sociedade civil, como, por exemplo, os filmes escolhidos para esta mostra. “O objetivo é descentralizar o processo de fomento à memória histórica sobre as violações aos direitos humanos ocorridas no passado”, afirma. Desse modo, garante-se uma diversidade de perspectivas do povo brasileiro sobre sua própria história.

Nas obras selecionadas para exibição, o tema dos direitos humanos é trabalhado por meio de uma abordagem histórica, discutindo o papel do Estado no período ditatorial e também na atualidade. Larissa diz que a missão do programa é dar voz às vítimas da ditadura. “Em geral, os projetos apresentados nas seleções têm por base testemunhos, relatos e vivências de personagens que resistiram à ditadura militar.”

Abre a mostra “Repare bem”, longa-metragem realizado pela atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros. O filme mostra testemunhos de mãe e filha que vivenciaram perseguições durante a ditadura e trata de exílio e memória. Outra produção exibida é “Os militares na democracia - Os militares que disseram não”, dirigido por Silvio Tendler. O documentário registra depoimentos de oficiais que resistiram ao regime autoritário imposto pelas Forças Armadas. Também de Tendler, integra a programação “Os advogados contra a ditadura: por uma questão de justiça”. A obra retrata profissionais que lutaram pela defesa dos direitos democráticos em meio à repressão militar.

Serviço: Galeria Olido. Av. São João, 473, Centro. Tel. 3331-8399 e 3397-0171. Próximo das estações República, Anhangabaú e São Bento do metrô. De 15 a 27. R$ 1
*Veja a programação completa:

REPARE BEM
(Brasil, 2012, 105 min). Dir.: Maria de Medeiros.
A partir dos testemunhos de uma mãe e sua filha, que vivenciaram a perseguição política da ditadura, o documentário trata de exílio e memória, levando o espectador a um mergulho profundo na história do Brasil a partir dos anos 1970.
| Dia 15, 19h. Dia 19, 17h

EU ME LEMBRO
(Brasil, 2012, 96 min). Dir.: Luiz Fernando Lobo.
Documentário sobre os cinco anos das Caravanas da Anistia. O filme reconstrói a luta dos perseguidos por reparação, memória, verdade e justiça, com imagens de arquivo e entrevistas.
| Dia 16, 15h

MILITARES DA DEMOCRACIA
(Brasil, 2012, 100 min). Dir.: Silvio Tendler.
Por meio de depoimentos e registros de arquivos, o filme resgata as memórias sufocadas e despercebidas de oficiais militares cassados, torturados e mortos por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade democrática.
| Dias 17 e 26, 17h

ANISTIA 30 ANOS
(Brasil, 2009, 17 min). Dir.: Luiz Fernando Lobo.
História da ditadura militar e da luta do povo brasileiro pela Lei e pela Comissão da Anistia.
AINDA EXISTEM PERSEGUIDOS POLÍTICOS
(Brasil, 2012, 54 min). Dir.: Coletivo Catarse.
Discussão sobre a ideia de ausência de uma efetiva transição democrática no Brasil pós-ditadura. O filme identifica semelhanças no agir do Estado no passado e atualmente, demonstrando que a cultura do autoritarismo permanece arraigada em algumas instituições.
| Exibições seguidas. Dia 18, 15h

DUAS HISTÓRIAS
(Brasil, 2012, 52 min). Dir.: Ângela Zoé.
A partir da trajetória de dois militantes socialistas, o filme capta as diferentes visões que orientavam a resistência na luta contra a ditadura.
| Dia 20, 17h

ADVOGADOS CONTRA A DITADURA
(Brasil, 2012, 130 min). Dir.: Silvio Tendler.
O papel político desempenhado por advogados na defesa dos direitos e garantias dos cidadãos durante a ditadura. O filme recupera sua contribuição no confronto com a repressão militar.
| Dia 22, 19h

DAMAS DA LIBERDADE
(Brasil, 2012, 28 min). Dir.: Célia Gurgel e Joe Pimentel.
Por meio de depoimentos de integrantes do Movimento Feminino pela Anistia e do Comitê Brasileiro pela Anistia, o filme narra a história da luta pela anistia no Brasil nos anos 1970.
VOU CONTAR PARA OS MEUS FILHOS
(Brasil, 2012, 24 min). Dir.: Tuca Siqueira.
Entre 1969 e 1979, um grupo de jovens mulheres foi preso numa colônia penal em Recife (PE) porque lutava contra a ditadura. Passados 40 anos, elas se reencontram, construindo a memória daqueles tempos de presídio.
| Exibições seguidas. Dia 23, 17h

EM NOME DA SEGURANÇA NACIONAL
(Brasil, 2012, 45 min). Dir.: Renato Tapajós.
A partir do Tribunal Tiradentes, evento organizado pela Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo em 1983, o filme trata da Doutrina de Segurança Nacional, eixo ideológico do regime militar.
| Dia 24, 17h. Dia 26, 15h

O FIM DO ESQUECIMENTO
(Brasil, 2012, 54 min). Dir.: Renato Tapajós.
A partir da história de pessoas que participaram do Tribunal Tiradentes em 1983 e que se destacaram na luta pelos Direitos Humanos, o filme retoma a questão da Doutrina de Segurança Nacional, investigando seus resquícios nos dias de hoje.
| Dia 24, 19h. Dia 27, 15h

A MESA VERMELHA
(Brasil, 2012, 78 min). Dir.: Tuca Siqueira.
A convivência de jovens presos políticos nos presídios masculinos de Pernambuco durante o regime militar, da entrada no cárcere, passando pela greve de fome, até chegar ao papel dos coletivos dentro da cadeia.
| Dia 25, 17h