Conpresp: rebelião na Câmara

Fonte: O Estado de S. Paulo

Centrão paralisa votações em retaliação ao veto anunciado por Kassab a projeto que modifica conselho

Sérgio Duran e Alexssander Soares

A reeleição de José de Assis Lefèvre para a Presidência do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico (Conpresp) rachou a base de sustentação política do prefeito Gilberto Kassab (DEM) na Câmara Municipal. O grupo chamado de Centrão, que conseguiu eleger a presidência da Câmara, paralisou a votação de projetos em retaliação ao anúncio de veto do prefeito ao projeto que alterou a composição do órgão de defesa do patrimônio histórico municipal. Kassab declarou ser inconstitucional o projeto aprovado por 39 vereadores - articulado pelos integrantes do Centrão - determinando que as decisões do Conpresp fossem submetidas ao Legislativo.

Os vereadores do Centrão também articulavam a eleição do vereador Toninho Paiva (PL) - integrante do grupo - para a presidência do Conpresp. O presidente da Câmara, Antônio Carlos Rodrigues (PL), comandou os acordos políticos, mas acabou atropelado por tucanos ligados ao governador José Serra (PSDB). O resultado foi a reeleição de José de Assis Lefèvre para a presidência do Conpresp, e desde terça-feira a ausência de vereadores do Centrão para garantir o quórum de 28 parlamentares para a votação de projetos de interesse de Kassab.

'É uma retaliação, mas esperamos que não prejudique muito o governo', afirmou ontem um dos aliados de Kassab. Um dos tucanos - responsável pela articulação de Lefévre à reeleição do Conpresp - admitiu o clima ruim na base de sustentação, reforçada pelo distanciamento de Kassab no processo de votação. 'Vamos ver até quando o Centrão agüentará ficar longe do governo', disse.

O inferno astral na base aliada atingiu o ápice na sexta-feira, quando parte da bancada tucana visitou Kassab. O presidente da Câmara e vereadores do Centrão discutiram rispidamente e trocaram ofensas com tucanos na sede da Prefeitura.

A temperatura política será medida hoje no convite aceito por Lefévre para participar da Comissão Parlamentar de Estudos (CPE), criada para analisar o trabalho do Conpresp. Ele afirmou que espera ser pressionado, mas que está disposto a colaborar. 'Eu acho que faz parte do meu trabalho e do deles. É provável que haja pressão, mas nada com o que eu não saiba lidar. Estou tranqüilo', disse Lefévre.

Tombamento do Parque do Trote será votado

A pressão do setor imobiliário fará o Conpresp antecipar a votação de um processo de 2004: o tombamento da antiga sede da Sociedade Paulista do Trote, na zona norte da cidade, e a restrição à altura dos prédios na vizinhança. 'Há empreendimentos grandes no entorno', diz José de Assis Lefèvre, presidente do Conpresp. 'E não é apenas a questão histórica, mas também a área verde, que não pode ser afogada', afirma.

Lefèvre acredita que o tombamento deverá ser decidido nos próximos meses, pois as primeiras reuniões, segundo ele, serão usadas para dar ciência aos novos conselheiros da situação do patrimônio.

A Sociedade Paulista do Trote foi fundada em 1944. Na gestão de Jânio Quadros (1986-1989), começou a ser discutida a desapropriação do terreno para transformá-lo em um parque público, o que só ocorreu em 2005, com o Parque do Trote. O mapa da região atingida pela decisão está no site do conselho (www.conpresp.sp.gov.br).