Órgão do patrimônio terá vereador ligado ao setor imobiliário

Fonte: Folha de S. Paulo

Toninho Paiva (PR) teve quase 40% de sua campanha financiada por uma empresa pertencente ao grupo Savoy

Ele defende que o Conpresp perca poder e que as decisões do conselho dependam de homologação pela Câmara Municipal

AFRA BALAZINA
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O vereador Toninho Paiva (PR), 65, novo representante da Câmara no Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico de SP), é ligado ao mercado imobiliário e teve quase 40% de sua campanha financiada por empresa do grupo Savoy. A empresa pertencente à imobiliária e construtora lhe doou R$ 89,4 mil - a campanha custou R$ 243 mil.
Paiva defende que o órgão perca poder e que todas as decisões do conselho dependam de homologação da Câmara. Para ele, por exemplo, o tombamento de galpões da Mooca, realizado em julho, deve ser revisto. A Savoy possui galpões nesse bairro para instalações industriais e é dona do shopping Aricanduva, na zona leste, onde está a base eleitoral do vereador.
A indicação de Paiva ao Conpresp, segundo a Folha apurou, faz parte de um movimento da Câmara para ganhar poder sobre o órgão. No início do mês, os vereadores aprovaram em primeiro turno projeto que aumenta de um para seis o número de vereadores no órgão. O conselho passaria a ter 14 membros, mas, como o projeto estabelece quórum mínimo de dois terços para as reuniões, o órgão só poderia se manifestar com a anuência dos parlamentares. A segunda e última votação pode ocorrer amanhã.
Paiva, que também articula para ser eleito presidente do Conpresp, antes de se tornar vereador -está há quatro mandatos na Casa- já foi jogador de futebol profissional no Paraná, vendeu imóveis e presidiu associações, como a Sociedade Amigos do Tatuapé. A seguir, trechos de entrevista que concedeu à Folha.  

FOLHA - O senhor é contrário ao tombamento da Mooca?
TONINHO PAIVA
- A princípio, sem conhecer com profundidade, sou contra. Conheço algumas pessoas que nos procuraram, investiram em áreas lá próximas ao moinho Santo Antonio e fizeram investimento de quase [tudo] do que possuíam e hoje se encontram em condições de perder o investimento. Acredito que precisa ser feita uma avaliação melhor.
(...) E a população da Mooca está revoltada. Quer verticalizar. E hoje se oferecem muitas condições de adquirir financiamento para uma classe média. A maior mão-de-obra de qualquer cidade é a construção civil.

FOLHA - Qual é a sua opinião sobre o Conpresp hoje?
PAIVA
- Vivemos num regime democrático e no Conpresp não há participação da sociedade, não se exige o cumprimento da democracia. Toma-se uma medida entre cinco membros e faz-se um tombamento. Mas o envoltório [área no entorno do bem tombado] é o grande problema e a grande preocupação nessa Casa [a Câmara].

FOLHA - Como fica se o projeto que muda o Conpresp for aprovado?
PAIVA
- Toda decisão do órgão terá de passar pela Câmara.

FOLHA - Isso não tira a independência? Não tira o poder?
PAIVA
- Não tira o poder todo. Tira a competência dele de fazer o tombamento sozinho.

FOLHA - O sr. já fez algum pedido de tombamento na cidade?
PAIVA
- Não.

FOLHA - Algum lugar deve ser?
PAIVA
- O parque do Piqueri e o santuário da Penha, de 1682.

FOLHA - Que imóveis não deveriam ser tombados?
PAIVA
- Tem imóvel que não deve ser tombado porque não tem nada de histórico. Os galpões que tombaram na Mooca eram para armazenar alimentos do Ceagesp, grãos, não vejo o que tem de histórico para a cidade. É preciso um certo cuidado, uma ampla discussão para tombar.

Parlamentar nega favorecimento a construtora

DA REPORTAGEM LOCAL

O vereador Toninho Paiva (PR) diz que nunca favoreceu nenhuma empresa ou construtora no período em que está na Câmara.
Ele diz que foi por intermédio de um amigo seu que obteve a doação de uma empresa do grupo Savoy para sua campanha eleitoral.
"Eu sempre pertenci à comissão de política urbana e no Plano Diretor passado eu era o presidente da comissão e, nem por isso, houve qualquer tipo de favorecimento a empresa ou empreendedor da construção civil", disse.
Questionado se não sofreria uma forte pressão do mercado imobiliário como representante do Conpresp, ele respondeu que tem de estar "preparado para sofrer todo o tipo de pressão e constrangimento". "Mas também tem uns momentos muito alegres, quando conquistamos uma escola, uma UBS, uma unidade do corpo de Bombeiros, uma creche."
Ele diz participar da vida pública em sociedades de amigos de bairros e que, no Tatuapé, presidiu a sociedade local por mais de dez anos.