Conselho deve conciliar história e verticalização em galpões da Mooca

Fonte: O Estado de S. Paulo

Conpresp vota amanhã 2 projetos: um com prédios na área industrial e outro de veto; meio-termo deve ser a saída

Sérgio Duran

O Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) deve optar por um meio-termo entre restringir a construção de edifícios na região do Moinho Santo Antônio, na Mooca, na zona leste da capital, e o projeto de verticalizar aquela parte do bairro. Previstas para o início deste mês, as votações sobre o projeto de condomínios residenciais no local e a proposta de restrição à verticalização devem ser apreciadas amanhã pelos sete conselheiros municipais.

O Estado apurou que os técnicos que dão suporte ao conselho costuram uma terceira proposta de conciliação, que não exclua totalmente a possibilidade de construir prédios na região, mas que mantenha o traçado original das ruas e também todas as construções de importância histórica. Ontem de manhã, arquitetos e militantes do bairro que são contra os conjuntos de prédios fizeram um abraço simbólico ao Moinho.

“O evento foi muito bom. Conseguimos reunir em torno de 60 pessoas, entre elas moradores, arquitetos e também o Superintendente da Associação Comercial Distrital Mooca (Antônio Viotto Netto)”, contou Elisabete Florido da Silva, que participa da Associação dos Moradores e Amigos da Mooca (Amo a Mooca) e da Associação Preserva São Paulo. “Foi uma oportunidade para discutirmos a verticalização desenfreada que está acontecendo. O nosso bairro está perdendo a característica bairrista. Estamos otimistas para a votação de amanhã, não só pelo evento, mas pela mobilização que vem ocorrendo para o tombamento da malha ferroviária.”

Já as construtoras Quality e Stan têm a seu favor as manifestações públicas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), do subprefeito da Mooca, Eduardo Odloak, e da presidente da associação de moradores do bairro, Crescenza de Neves. Assinado pelo arquiteto e ex-presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA), Gianfranco Vanucchi, o projeto de construção de quatro torres residenciais, de 20 andares cada uma, e de uma praça com o Moinho restaurado no meio, está parado no Conpresp à espera de votação há mais de dois anos.

“Não quero entrar no mérito ou não da necessidade do tombamento ou da importância histórica porque assumi o trabalho tendo em mãos o diagnóstico feito por outra especialista, mas acho considerável a oportunidade que se tem de restaurar e manter o Moinho, oferecida por esses empreendedores”, diz Vanucchi. A Quality e a Stan se propõem a recuperar a parte mais importante do Moinho, construir uma praça no entorno e entregar esse equipamento para a Prefeitura administrar depois.

A arquiteta Helena Saia, cuja tese de mestrado pela Universidade de São Paulo é sobre arquitetura industrial da capital, foi a especialista contratada pelas construtoras. Saia propõe a manutenção apenas do prédio do Moinho. “Em uma fazenda de café, você tem o cafezal, a casa grande e o terreiro, onde o café era seco e os grãos separados. O que mais interessa preservar quando a memória da produção é a que está em jogo? Da mesma forma, é o moinho a parte mais importante do conjunto. A maioria dos galpões ao redor são construções secundárias, algumas de épocas diferentes”, considera a arquiteta. “Galpões funcionam como edículas da cidade.”

As historiadoras Manoela Rufinoni e Cristina Meneguello, da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Campinas (Unicamp), respectivamente, e os arquitetos Giancarlo Bertini e Fernanda Valentin pensam o contrário. Para eles, o conjunto industrial remonta ao início da industrialização de São Paulo, no século 19. Os quatro especialistas defendem, em um documento, que é importante manter até o desenho e a distribuição dos imóveis porque o conjunto influenciou a forma como a capital foi ocupada depois.

Esse trabalho serviu de base para outro projeto que será apreciado pelo Conpresp. Dessa vez, indicando o veto à construção de condomínios verticais na região encerrada pelas Ruas da Mooca e Borges Figueiredo, pelo Viaduto São Carlos e pela Avenida Presidente Wilson. Outras propostas parecidas foram aprovadas no mês passado para o entorno do Museu do Ipiranga e para o Parque da Aclimação, na zona sul. Dessa vez, porém, o mapa com a delimitação da área onde os prédios seriam vetados não foi mostrado antes da sessão.

A reportagem ouviu de dois conselheiros, que não quiseram se identificar, que a proposta da Mooca era a mais radical das três, e que portanto deveria passar por algumas modificações para que não tornasse totalmente inviável a construção de prédios na região do Moinho.

O grupo que defende o veto aos prédios na Mooca propõe transformar o conjunto de galpões em uma região parecida com a Lapa, no Rio de Janeiro: um imenso parque linear pontuado por equipamentos culturais, que seriam instalados nos imóveis históricos restaurados. Os arquitetos defendem ainda que o local não deve ser ocupado por ter possivelmente o solo contaminado.