SP vê megaprodução de "Sansão e Dalila"

Fonte: Folha De São Paulo

Com cenário grandioso, projeções de versículos bíblicos e música complexa de Saint-Saëns, ópera tem 5 récitas a partir de hoje

Clássico foi encenado pela última vez no Theatro Municipal em 1941 e, agora, ganha montagem com regência de Jamil Maluf


JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Sansão e Dalila", a mais conhecida das 12 óperas escritas pelo compositor francês Camille Saint-Saëns (1835-1921), estréia hoje em temporada de cinco récitas no Municipal de São Paulo. Ela não era encenada no teatro desde 1941, mas esse lapso de 67 anos é agora compensado por uma requintada superprodução, com a direção musical e regência de Jamil Maluf e a direção cênica de André Heller-Lopes.
Estreada em 1877 na Alemanha -foi a convite de Liszt, na época diretor musical em Weimar-, a ópera é baseada no Livro dos Juízes, do Velho Testamento, e conta a história de Sansão, líder do povo hebraico que há mais de 13 séculos resistia à opressão dos filisteus. Ele se deixa seduzir por Dalila, a quem confidencia que a origem mágica de sua força excepcional está em seus cabelos.
Orientada pelo Sumo-Sacerdote, a filistéia Dalila corta os cabelos de Sansão e o reduz à condição de um indigente prisioneiro. Mas seus cabelos voltam a crescer, e ele destrói o templo de Dagon, morrendo sob os escombros que também sepultam os opressores.
No papel de Sansão revezam-se os tenores Richard Berkeley-Steele, um britânico com forte tradição wagneriana, e o brasileiro Marcello Vannucci. Como Dalila, as meios-sopranos Cecilia Diaz, argentina, e a brasileira Denise de Freitas. O barítono brasileiro Leonardo Neiva, cantor num momento excepcional de sua carreira, faz nas récitas o Sumo-Sacerdote.
O aspecto de superprodução está nos cenários de Helio Eischbauer, que ocupam toda a extensão do palco e constroem a idéia de profundidade numa sucessão de planos, e nos figurinos de Marcelo Marques, que vestem os judeus como se vivessem no século 19. A projeção de versículos da Bíblia ou de imagens em movimento em primeiro plano, sobre uma tela transparente, é utilizada com moderação para evitar o empetecamento visual. O diretor André Heller-Lopes, em sua quarta ópera no Municipal -ele já fez "Andrea Chénier", "A Filha do Regimento" e "Ariadne em Naxos"-, disse à Folha que sua proximidade com a cultura judaica permite "brincar de forma mais íntima" com os códigos visuais do judaísmo. Mas não estão neles sua idéia do que seria uma "montagem contemporânea".
"Ser contemporâneo não é colocar a Dalila circulando de patins, como poderia vir à cabeça de algum diretor alemão.
A contemporaneidade está na redescoberta da emoção que a ópera provocou ao estrear em 1877, no tipo de comunicação de Saint-Saëns com o público." Nessa linha, diz ele, uma superprodução não está na procura dos efeitos visuais grandiosos. "Grandiosos são os sentimentos, cheios de dualidades e antagonismos." Paralela à oposição entre judeus e filisteus há a Dalila "como líder política", ao mesmo tempo mulher fatal e cúmplice de um Deus hebraico que ela não chega a compreender.
André Heller também diz que vê em Sansão uma espécie de herói grego, que segue um destino e obedece a vontade divina. Ele não montou seu personagem apenas nas ricas indicações do libretista Ferdinand Lemaire. Foi também buscá-lo na Bíblia, identificando sua missão religiosa e política na graça pela qual Jeová permitiu que ele nascesse de uma mãe em princípio estéril.
Mas há sobretudo a música de Camille Saint-Saëns, com sua extrema sutileza harmônica, com um senso da orquestração complexo e sutil como uma malha de rendas.

|Serviço: SANSÃO E DALILA
hoje e dias 24, 26 e 28, às 20h30, e dia 30, às 17h
No Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 0/xx/11/ 3397-0327)
De R$ 20 a R$ 40, e de R$ 10 R$ 20 no dia 24
Classificação: não indicado a menores de 5 anos