Tenor Eric Herrero brilha em "ópera-baile"

Fonte: Folha De São Paulo

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

A grande ária veio no segundo ato de "Le Villi", com o tenor Eric Herrero aos lamentos, atormentado pela própria vilania amorosa. Ali se escuta Puccini em Puccini (1858-1924), o que nem sempre é o caso na sua primeira ópera. Não é muito, mas bem mais do que o Puccini nenhum em "Amelia al Ballo", ópera bufa do seguidor Gian Carlo Menotti (1911-2007), também encenada no Municipal, nessa produção da Orquestra Experimental de Repertório.
No ano passado, a Banda Sinfônica apresentou "O Telefone", de Menotti; agora temos "Amelia". Que não seja o início de uma voga, porque restam mais de 15 óperas do autor. Nada aqui jamais tem a pretensão de escapar do conhecido; nada se alça além da esmerada média. O humor repisa os clichês mais previsíveis, revolvendo-se nas graças do "andar de cima", como diria Elio Gaspari.
E a música? Recria a máquina de Puccini, sem o gênio.
Isto posto, há que se elogiar a verve do trio de solistas: a soprano Claudia Riccitelli (Amelia), o barítono Leonardo Neiva (o marido) e o tenor Martin Mühle (o amante). E o empenho da OER, regida por Juliano Suzuki.
A montagem dirigida por Lívia Sabag não tem maiores pretensões; mas arrisca-se, no fim, a uma série de referências de época. São personagens que vão entrando absurdamente em cena: Chaplin, Picasso, Nijinsky, Einstein, Santos Dumont. A surpresa soa afetada -o que não deixa de ser coerente com o que se viu e ouviu.
Dois mil e oito marca o sesquicentenário de nascimento de Puccini, um dos compositores mais conhecidos do repertório. "Le Villi" é sua "ópera-baile", composta aos 24 anos, com libreto que reescreve a história do balé "Giselle". Aqui entram em cena "Les Willis", espíritos das mulheres traídas -dançados, com simpatia e ingenuidade, pelo Corpo de Baile Jovem da Escola Municipal de Bailado (coreografia de Mariana Muniz).
Ingenuidade e simpatia passam longe das emoções perversas que o jovem compositor começava a trabalhar. Já era o gênio, sem a máquina.
Dirigida por João Malatian, a montagem é realista, nos dois sentidos do termo: teatral e econômico. A soprano Mirna Rubim, expressiva e inteligente em cena, sofreu alguns desequilíbrios na estréia, mas isso afinal compunha o papel. Douglas Hahn, barítono, deu conta do recado, como também a OER, regida por Jamil Maluf. Quem brilhou mesmo foi Eric Herrero, em que pese a encenação carregada.
Diz o ditado que a voz do povo é a voz de Deus. E a platéia delirava, no fim. Mas platéias de ópera amam a ópera acima de todas as coisas; e o crítico se reserva o direito de permanecer agnóstico.

|Serviço: AMELIA AO BALLO E LE VILLI
Hoje, qui. e sáb., às 20h30; até 18/10
Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3397-0300)
R$ 10 a 40
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 5 anos
Avaliação: regular