Direção põe em dúvida reabertura do teatro

Fonte: Folha De São Paulo

Diretor de relações institucionais do Cultura Artística, Eric Klug, disse que decisão sobre o que fazer com o prédio dependerá da perícia

Para o bibliófilo José Mindlin, incêndio foi um "desastre"; ator Marco Nanini afirma que "perda do teatro é irreparável"

DA REPORTAGEM LOCAL

Eric Klug, diretor de relações institucionais do teatro Cultura Artística, responsável pelo local atingido por um incêndio na madrugada de ontem, chegou a colocar em dúvida a reabertura do prédio. "A gente tem que, primeiro, ver se vai conseguir utilizar o teatro de novo. Talvez o teatro tenha que ser reformado, talvez o teatro não possa ser utilizado nunca mais", afirmou. O diretor afirmou que irá aguardar a perícia do IC (Instituto de Criminalística) e a avaliação do Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis), da prefeitura, para decidir o que fazer com o prédio. "Se a gente vai manter o teatro ou se vai reformar, se vai arrendar, fazer uma parceria com alguém. A gente tem que esperar ter acesso à área e ver o que realmente pode ser salvo." Em nota, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou que o secretário municipal de Cultura, Carlos Calil, vai comandar um grupo de trabalho integrado por membros do poder público e da sociedade para arrecadar fundos públicos e privados para a recuperação do teatro, avaliado em R$ 4 milhões. Klug ainda não sabe o que fazer, por exemplo, com o painel de Di Cavalcanti, que sofreu rachaduras e perdeu pastilhas. "Isso depende. E, em não podendo ser utilizado, tem que se ver o que se fazer com esse painel. Se ele pode ser transferido, se pode ser mantido lá." De acordo com Klug, o teatro tem seguro para instalações e conteúdo, como os pianos.

"Estado de choque"
O incêndio no Cultura Artística destruiu a sala Esther Mesquita, onde o ator Marco Nanini estava em cartaz desde o dia 19 de abril com a peça "O Bem Amado", de Dias Gomes. Nanini havia terminado a primeira temporada há duas semanas e iria fazer mais seis semanas extras de espetáculo. "Ainda estou um pouco em estado de choque. Apresentei-me muitas vezes lá, só com "Irma Vap" foram cinco anos. Mas a perda do teatro é a pior coisa, é irreparável, pois era tradicional, uma sala boa e grande", declarou Nanini. Diretor-presidente da Sociedade Cultura Artística, que gerencia o teatro, o empresário e bibliófilo José Mindlin disse que o incêndio foi "um desastre que aconteceu inesperadamente". "Um teatro como este desaparecer é uma grande frustração porque havia sido uma conquista, e a perda da instituição é uma tristeza para todos, não é tão fácil reparar. O teatro enfrentou muitos problemas, mas a gente vai em frente, não pode desanimar", afirmou. Diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, o maestro Roberto Minczuk foi vencedor, em 1985, como trompista, do Prêmio Eldorado de Música, do Teatro Cultura Artística. "A fachada está intacta, mas o interior parece ter sido completamente destruído. Fico triste, porque esse teatro é um dos mais importantes do Brasil, e um marco da vida musical de São Paulo", disse.

Solidariedade
Diretor-Secretário da Sociedade Cultura Artística, e dono da rede de livrarias Cultura, Pedro Herz chegou ao teatro às 7h30 e em seguida foi ao hotel Maksoud Plaza, na região da avenida Paulista, onde a Sociedade criou um quartel-general para gerenciar a crise. "Dá vontade de chorar. Estamos todos abalados emocionalmente, tendo que enfrentar a situação e que resolver problemas enormes", disse Herz. "Estou comovido com a solidariedade das pessoas, vinda através de telefonemas. O que mais peço é a compreensão dos assinantes e colaboradores."
(EDUARDO SIMÕES e KLEBER TOMAZ)

Colaborou IRINEU FRANCO PERPÉTUO