Dança perde coreógrafa Ivonice Satie

Fonte: Folha De São Paulo

Ex-diretora artística do Balé da Cidade estava internada com câncer em São Paulo

Lembrada como "furacão da dança" pela atual diretora do Balé da Cidade, Satie ficou à frente da Cia. Sociedade Masculina mesmo doente

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Figura chave da dança paulistana há mais de três décadas, a coreógrafa e diretora artística paulista Ivonice Satie morreu ontem, aos 57 anos, no hospital Oswaldo Cruz, na zona sul. Satie vinha lutando há dois anos contra um câncer que a deixara enfraquecida, mas não a afastara dos bastidores da dança.
Mesmo doente continuou à frente da Cia. Sociedade Masculina. Seu corpo foi velado no teatro Sérgio Cardoso, e o enterro está previsto para o fim da tarde de hoje, no cemitério do Morumbi.
Disciplinada e ao mesmo tempo impulsiva, Satie deixou sua marca por algumas das principais companhias de dança de São Paulo, entre elas o Cisne Negro, na qual foi assistente de direção, mas principalmente no Balé da Cidade. Ela participou da passagem da companhia do balé clássico para a dança moderna, em 1974, e a dirigiu em duas fases (de 1993 a 1996 e de 1999 a 2001), ajudando a criar a Cia. 2, composta por bailarinos veteranos.
"Como bailarina clássica Ivonice já se destacava muito, depois abraçou totalmente a mudança dentro da companhia, até porque sua energia e emoção combinavam muito com a nova fase", diz a atual diretora do Balé da Cidade, Mônica Mion. Ela lembra ainda que foi Satie quem levou a companhia pela primeira vez para o exterior, participando da Bienal de Dança de Lyon, em 1996.
"Durante os anos em que esteve aqui, a companhia cresceu muito, porque ela batalhava por verbas, trazia coreógrafos de fora, lutava contra tudo por causa do Balé da Cidade. Era um furacão."
Boa parte do legado desta paulista nascida na cidade de Bilac passou em revista em março último, quando companhias nas quais trabalhou se juntaram para a homenagem "Para Ivonice Satie", no Teatro de Dança. Satie assistiu, entre outros, a "Shogun", de 1982, sua obra mais famosa.
Em abril, Satie também participou de um depoimento público sobre sua obra no auditório Franco Zampari, dentro do projeto "Figuras da Dança", da São Paulo Cia. de Dança.

Corpo de Baile
Formada pela Escola Municipal de Bailados, Satie dançou durante 14 anos no Corpo de Baile Municipal de São Paulo -que deu origem ao Balé da Cidade- ganhando, inclusive, o APCA de melhor bailarina em 1977. Em 1982, antes de seguir para uma temporada na Suíça, participou como bailarina, diretora assistente e coreógrafa da montagem brasileira do musical "A Chorus Line".
Convidada por Oscar Araiz, trabalhou como bailarina e coreógrafa assistente durante seis anos no Grand Ballet du Théâtre de Genève. Já nos anos 90, esteve à frente do Balé da Cidade e foi assessora de linguagem artística de Diadema, na Grande São Paulo, onde criou um projeto social que deu origem à Companhia de Danças de Diadema. De 2003 a 2005, dirigiu a Companhia de Dança do Amazonas. Também foi diretora do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Sated).
"Da geração de bailarinos de Satie, com certeza, ela foi a mais visionária e empreendedora. Sua visão não era só em cima do aqui e agora. Ela pensava no amanhã da dança", diz Anselmo Zolla, amigo há mais de uma década, com quem dividia a direção artística da Cia. Sociedade Masculina.
Entre as companhias que dançam obras de Satie, há muitos grupos internacionais, como o Jeune Ballet de France, Croatia National Ballet e San Francisco Ballet. A coreógrafa deixa uma filha, Carolina, e dois netos.