SP Cia. de Dança inicia turnê

Fonte: Folha De São Paulo

Criada há 6 meses pela Secretaria de Cultura do Estado, companhia apresenta a coreografia "Polígono'

Alessio Silvestrin assina o espetáculo com trilha que faz releitura de música barroca; após passar pelo interior, cia. apresenta-se em SP em 4/9

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de seis meses de preparação, a São Paulo Companhia de Dança cai na estrada a partir de hoje, dando início ao ritual que marcará sua estréia oficial nos palcos. Nascido no início do ano, o grupo faz um esquenta por quatro cidades paulistanas, começando por Caraguatatuba, antes de chegar à capital, em 3 de setembro, para a primeira temporada, no teatro Sérgio Cardoso.
Às vésperas da turnê, havia um misto de excitação e nervosismo na sede provisória da companhia, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, na Bela Vista, em São Paulo). Cerca de 70 pessoas -entre as quais, 40 bailarinos- estavam às voltas com a viagem do grupo, fundado pela Secretaria de Estado da Cultura. Lá, estava também o coreógrafo italiano Alessio Silvestrin, que assina "Polígono", o espetáculo de estréia do grupo, que já sente o peso das primeiras apresentações.
"Em toda estréia, o artista se coloca em julgamento pelo público. Agora talvez o julgamento seja maior, porque é uma companhia estreante", avalia a diretora artística da São Paulo Cia., Iracity Cardoso.
"O conselho que eu dou para o público é que olhe esta companhia com o rigor de quem olha para um grupo profissional, sim, mas lembrando que se trata de uma companhia em seu ano zero", conclui ela, que comandou, nos anos 70, a virada do Balé da Cidade de São Paulo de um grupo clássico para moderno.

Coreografia
O coreógrafo italiano Silvestrin chegou à capital em junho para criar o espetáculo "Polígono". Ele não era o primeiro nome da lista, que incluiu, entre outros, Márcia Milhazes e Luis Arrieta, mas transformou-se em melhor opção depois da recusa dos artistas brasileiros ou radicados no Brasil.
A escolha pelo nome de Silvestrin, 35 anos, foi baseada num currículo vistoso: ele dançou e já coreografou para as companhias de Maurice Béjart (1927-2007), Ballet de Lausanne e Balé da Ópera de Lyon, e foi intérprete do Ballet de Frankfurt, comandado por William Forsythe, 59.
"Peguei o que este grupo tem de melhor, que é a formação em balé clássico, e a partir daí criei movimentos baseados na música ["Uma Oferenda Musical", de Bach]", diz ele.
A movimentação criada em parceria com os brasileiros Ricardo Scheir e Maurício de Oliveira é das mais complexas, fazendo lembrar o jogo de braços e quadris típicos da linguagem coreográfica de William Forsythe. São duos, trios, quartetos e grandes conjuntos de tirar o fôlego dos intérpretes.
"Ao mesmo tempo que os movimentos são extremamente rebuscados, temos que ter uma clareza e limpezas impressionantes na execução deles. É um balé que pede resistência e raciocínio rápido, como o do Alessio, que é muito inteligente", diz a bailarina Carolina Amares, de 23 anos, que até o início do ano dançava no grupo da carioca Deborah Colker.
"Polígono" passou por seu primeiro teste de público há duas semanas. Dentro da série "Corpo-a-Corpo" realizada pela companhia -que apresenta ensaios abertos a uma platéia de estudantes. O espetáculo foi exibido ainda em fase de construção.
Segundo Iracity, a coreografia já diz muito sobre as intenções artísticas da companhia.
"É muito simbólico trabalharmos com uma música barroca que ganhou uma releitura no século 21 [a gravação usada pela companhia é do grupo belga Het Collectief]. Partimos da técnica clássica mas há contaminação clara das técnicas moderna e contemporânea."
Uma escolha aparentemente coerente para uma companhia que pretende abarcar um repertório eclético, dos grandes clássicos do balé do século 19 à modernidade do século 20, até chegar aos dias de hoje.
Depois de Caraguatatuba, onde a São Paulo Cia. de Dança se apresenta hoje e amanhã, o grupo segue para Santos (dia 13), Araraquara (22 e 23) e Ribeirão Preto (29 e 30).