Museu assume caráter nômade

Fonte: Folha De São Paulo

Instituição que mudou de sede cinco vezes em seus 60 anos busca parceiros para mostras maiores

Na opinião do curador Felipe Chaimovich, MAM "não pode ser definido por um edifício'; mesmo assim, voltar à Oca ainda é objetivo

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao completar 60 anos nesta terça-feira, sendo quase 40 deles embaixo da marquise do parque Ibirapuera -o que contraria o criador do complexo arquitetônico, Oscar Niemeyer-, o Museu de Arte Moderna de São Paulo abandona um projeto expansionista e assume como definitivo seu caráter transitório.
"Eu vejo o MAM como tendo uma natureza quase nômade. Em sua história, na verdade, ele é muito mais uma idéia do que um edifício. O MAM nunca foi um edifício", afirma o curador da instituição, Felipe Chaimovich. "Embora fisicamente seja um museu pequeno, ele pensa grande, nós pensamos grande", diz também Milú Villela, a presidente do museu.
Quando fundado pelo empresário Ciccillo Matarazzo (1898-1977), em 1948, o museu expôs seu acervo numa sede provisória, na rua Caetano Pinto, no Brás, onde ficava a Metalúrgica Matarazzo. Em 1949, passou para uma sede própria, na rua Sete de Abril, no centro.
Já em 1958, o museu mudou-se para a Oca e, em seguida, para o segundo andar do prédio da Bienal, ambos no Ibirapuera. Quando Ciccillo tentou extinguir o MAM, em 1963, e transferiu sua coleção para a Universidade de São Paulo, o museu perdeu sua sede. Foi só em 1969 que o atual espaço, embaixo da marquise, no então Pavilhão Bahia, criado por Lina Bo Bardi, transformou-se na sede.
Nas comemorações dos 50 anos, em 1998, a direção do museu anunciou que voltaria a ocupar parte da Oca, então Museu da Aeronáutica, o que acabou não ocorrendo.

Exposições temporárias
Com área expositiva de apenas 1.300 m2, o MAM não tem condições de exibir em caráter permanente seu acervo, composto por mais de 5.000 obras. Abriga apenas exposições temporárias.
"Não foi por falta de oferta que eles não cresceram, pois por duas vezes eu propus que o museu ocupasse o Pavilhão Armando de Arruda Pereira, a antiga sede da Prodam [também no Ibirapuera]", diz o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. Com a recusa, ele está propondo que o pavilhão abrigue o novo Museu A Mão do Povo Brasileiro.
"Foi uma decisão estratégica. Nesse momento, o museu tem segurança em funcionar aqui, depois de ter conseguido se equilibrar administrativamente. Agora que se chegou num certo conforto, então não há clareza se a mudança para a Prodam poderia desestabilizar completamente essa situação", explica Chaimovich.
Nos bastidores, fala-se que a recusa ocorreu porque a administração do parque queria que o museu instalasse lá banheiros públicos. "Eu nunca soube disso, mas tenho certeza de que seria totalmente negociável", afirma Calil.

Parcerias
Sem planos imediatos de expansão, o MAM busca outras formas de ocupação de espaço, no próprio parque. "É possível pensar o MAM em atuações pontuais, fazendo parcerias com o Planetário, com a Escola de Jardinagem e alugando a Oca quando tiver necessidade, se houver um projeto de envergadura. Enquanto isso, fica tudo tinindo aqui dentro", diz o curador. Em outubro, pela segunda vez no ano, o museu irá mostrar parte de seu acervo.
Segundo Chaimovich, a falta de espaço pode até ser vista como algo positivo: "Isso faz o museu ser bastante dinâmico, num espaço pequeno e enxuto, além de ter outro lado, que é não se cansar de ver o acervo, pois ele vai mudando conforme a exposição, algumas de acervo, e outras em que está em diálogo com coleções distintas".
Apesar de publicamente assumir esse lado "nômade", o MAM, contudo, não deixa de pleitear a Oca, o que não é aceito por Calil: "A sociedade precisa de um espaço de grande envergadura para exposições. No Ano da França no Brasil [2009], grandes exposições estão sendo programadas para a Oca, mostras que não caberiam em nenhuma outra instituição. Além do mais, aquele não é um prédio para museu, ele não tem reserva técnica, por exemplo. E isso não é minha opinião, eu ouvi muita gente para chegar a essa conclusão".
Dependendo das eleições municipais deste ano, a posição da prefeitura pode mudar. Para Chaimovich, "a Oca é incrível museologicamente, e reserva técnica dá para construir de forma provisória. Na Europa, ocupam-se prédios históricos com estruturas que não interferem nos edifícios, e isso seria possível aqui".
Mesmo assim, o curador reafirma o perfil "sem-teto": "Queremos pensar o museu de uma maneira dinâmica e não patrimonialista. Eu não concordo que o museu seja definido por ser um edifício".