Fotógrafo alemão registra nascimento do teatro em SP

Fonte: Folha De São Paulo

Kleeman se refugiou no Brasil durante o nazismo e retratou grandes astros do TBC

 
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os protagonistas de suas fotos são muito conhecidos: Paulo Autran, Glória Menezes ou Tarcísio Meira, entre outros. Entretanto, o autor dos registros, o fotógrafo alemão Fredi Kleemann (1927-1974), muito pouco. Com um programa que tem sido voltado basicamente à fotografia, a galeria Olido, da Secretaria Municipal de Cultura, apresenta um artista praticamente desconhecido na cena contemporânea, mas que se revela arrojado e inovador.
A exposição, com curadoria de Mônica Caldiron, apresenta, em 98 fotografias, duas facetas de Kleemann: sua vinculação com o teatro e suas experimentações com luz. Nascido em Berlim, Kleemann chegou jovem ao Brasil, em 1933, refugiando-se da perseguição anti-semita na Alemanha.
Em São Paulo, trabalhou em um laboratório fotográfico e foi membro do Foto Cine-Clube Bandeirantes, afiliação que lhe estimulou os exercícios sobre luz, como uma curiosa série de registros de um rato ao lado de um queijo, conjunto presente na exposição.
Sua faceta mais particular, no entanto, pode ser vista na forma como registrava as peças encenadas no Teatro Brasileiro de Comédia ou no grupo de Cacilda Becker, companhias para as quais foi contratado como fotógrafo. Em geral, Kleemann, que também era ator, realizava suas imagens em meio aos próprios atores durante os ensaios, conseguindo, com isso, planos próximos dos artistas, captando nuances de interpretação.
Esse procedimento inovador contrariava um dos princípios da fotografia, que era de buscar um registro frio e objetivo, quase científico, fazendo com que o resultado deixasse claro o envolvimento do fotógrafo.
O que ainda torna especial a obra de Kleemann é ter registrado praticamente a criação do teatro na cidade de São Paulo, nas décadas de 1950 e 1960, e particularmente uma de suas principais protagonistas, a atriz Cacilda Becker, de quem era muito amigo, relação que se destaca na mostra em grande quantidade de imagens.
Morto prematuramente aos 52 anos, todo o acervo de Kleemann, composto por 12 mil negativos, foram adquiridos pela Prefeitura de São Paulo, em 1976, graças ao então secretário de Cultura, Sábato Magaldi.
Com pouquíssima visibilidade e presente apenas em mostras coletivas, finalmente o fotógrafo começa a ganhar o merecido destaque.

|Serviço:
FREDI KLEEMANN 
Galeria Olido (av. São João, 473, tel. 3397-0000) 
Dde ter. a sáb., das 12h às 21h30; dom., das 12h às 19h30; até 20/7
Entrada franca
Avaliação: ótimo