Melodia tira músicas do baú para show da Virada

Folha De São Paulo

Cantor interpretará no Theatro Municipal faixas esquecidas de "Pérola Negra"

Para ele, "dá uma sensação boa" relembrar época em que teve músicas gravadas por Gal e Bethânia e pôde realizar disco "antológico"

Rafael Andrade/Folha Imagem
 
Luiz Melodia observa um gato no estúdio em que ensaia para a Virada; ele está decorando de novo letras como a de "Pra Aquietar"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Melodia tem carregado para ensaios uma pasta com versos que escreveu há quase 40 anos. Faz tanto tempo que não os canta que precisa decorá-los novamente. São letras de algumas faixas de "Pérola Negra", seu primeiro e mais importante disco.
A mexida no baú foi motivada pelo convite para abrir um dos principais palcos da Virada Cultural. Melodia cantará no Theatro Municipal às 18h de sábado, ponto de partida da programação que movimentará São Paulo por 24 horas e poderá satisfazer espectadores diversos.
Em 2006, ele participou da Virada pós-ataques da facção criminosa PCC, quando criticou no palco o então governador Cláudio Lembo: "Governador, presta atenção, porra".
Melodia e seu "Pérola Negra" formam o principal conjunto dentro da série de shows da Virada em que discos antigos serão recriados ao vivo.
"Achei essa idéia muito bacana. Vai me permitir fazer uma releitura desse disco que é antológico e marcou época para muita gente", diz o cantor, 57.
Segundo ele, é a primeira vez, desde os anos 70, em que faz um show todo dedicado ao repertório de "Pérola Negra".
O disco é de 1973, mas as músicas vinham sendo feitas nos anos anteriores. Por isso, algumas já são quarentonas -"meio idosas", brinca Melodia. Em 1971, Waly Salomão, que dirigia o show de Gal Costa, mostrou "Pérola Negra" a ela.
A música estourou ao vivo e entrou no histórico "Fa-Tal -Gal a Todo Vapor".
No ano seguinte, Maria Bethânia gravou "Estácio, Holly Estácio". Mais pontos para Melodia, cujo talento já era exaltado por Torquato Neto em sua coluna "Geléia Geral", no "Última Hora".
Em 1973, surgiu então "Pérola Negra", com dez faixas que misturavam samba, soul, xote, violões e guitarras, além de letras extremamente originais. Era um desdobramento das idéias tropicalistas, mas sem carregar nenhuma bandeira.
O impacto foi majoritariamente positivo, mas houve quem reclamasse. Afinal, Luiz Carlos dos Santos era um jovem do morro de São Carlos, no Estácio, bairro carioca que é o berço do samba tal qual se firmou como gênero.
"Eu ouvia críticas até no bairro, mas nem dava importância. Seguia meu caminho", diz. Venceu até a resistência do pai, o sambista amador Oswaldo "Melodia" (o apelido foi transmitido para o filho), que o queria na medicina ou na política -do lado esquerdo dessa.
"Ele dizia que música não dava futuro, mas não tinha jeito: ele compunha e cantava em casa, eu ouvi música desde criança. Acabou se tornando meu maior fã. Carregava o "Pérola Negra" embaixo do braço para baixo e para cima", conta.
"Pérola Negra", "Estácio, Holly Estácio", "Magrelinha" e "Farrapo Humano" são sucessos que raramente ficam de fora dos shows do cantor. "Vale Quanto Pesa" e "Estácio, Eu e Você", embora bem conhecidas, já perderam o lugar cativo há algum tempo. E "Pra Aquietar", "Abundantemente Morte", "Objeto" e "Forró de Janeiro", há mais tempo ainda. Estão sendo decoradas de novo.
"Ainda ouço o "Pérola" às vezes e gosto. Rememorar aquela época me dá uma sensação boa, agradável. Acho que vai ser assim no show", diz ele, que montou uma banda de quatro músicos especificamente para a apresentação da Virada, na qual também deve cantar duas faixas de seu último CD, "Estação Melodia". Colaborou RAQUEL COZER, da Reportagem local

LUIZ MELODIA
Quando: sábado, às 18h
Onde: Theatro Municipal (pça Ramos de Azevedo s/nº)
Quanto: entrada franca - os ingressos serão distribuídos uma hora antes do início