Um ciclo para lembrar a grande arte de sir Dirk Bogarde

Fonte: O Estado De São Paulo

Ator de Joseph Losey e Luchino Visconti, escritor renomado, ele fez história com filmes que mudaram até as leis na Inglaterra

Luiz Carlos Merten

É uma pena que o ciclo que começa hoje no Centro Cultural São Paulo, mesmo resgatando filmes da primeira fase da carreira de Dirk Bogarde, não traga aquele que foi um divisor de águas para o grande ator inglês. Em 1961, ele era o galã número um do cinema inglês, famoso pelos filmes da série Doctor, que fez com direção de Ralph Thomas . Foi quando Basil Dearden lhe ofereceu o papel de protagonista em Victim, que no Brasil se chamou Meu Passado Me Condena.

O filme conta a história deste homem respeitável chantageado por seu homossexualismo. Sempre que lhe perguntarem se um filme pode interferir na realidade, você poderá citar o caso de Victim. A repercussão foi tão grande na Inglaterra que levou à revisão das leis que, datando da época da rainha Vitória, penalizavam o homossexualismo (e haviam levado Oscar Wilde à prisão). O caso fez sensação maior ainda porque Bogarde aproveitou para assumir que ele próprio era gay, saindo do armário.

Uma série de nove filmes permitirá agora ao público reavaliar a arte de Dirk Bogarde. Inclui obras assinadas pelos dois maiores diretores com quem ele trabalhou - Joseph Losey e Luchino Visconti. Nascido em 28 de março de 1921, Bogarde morreu em 8 de maio de 1999, aos 78 anos. Em 1939, aos 18, já estava frente às câmeras. Em 1950, ganhou seu primeiro papel principal - o de um assassino de policiais em A Lâmpada Azul, de Basil Dearden. E, em 1990, recebeu o título de sir, outorgado pela rainha Elizabeth II. Naquele mesmo ano, Bogarde fez Daddy Nostalgia, ao lado de Jane Birkin, com direção de Bertrand Tavernier. Foi o fecho de sua admirável carreira de ator, já que ele preferiu se dedicar à de escritor. Além dos quatro volumes de sua autobiografia, escreveu romances como A Gentle Ocupation, Voices in the Garden, West of Sunset e Jericho, que lhe valeram o título de Doctor of Letters da Universidade St. Andrews.

Poucos atores - verdadeiros artistas - foram tão reconhecidos por sua contribuição à arte e à indústria do cinema. Só que Dirk Bogarde foi além. O ciclo do CCSP oferece uma boa amostra da evolução de sua persona cinematográfica. Traz filmes da série Doctor - Não Diga, Doutor e Consultório Indiscreto -, mais outra comédia de Ralph Thomas, A Noiva do Comandante, na qual contracenou com uma francesinha que também viraria mito, Brigitte Bardot, a BB. Os destaques da programação são O Criado, de Losey, com roteiro de Harold Pinter, e Morte em Veneza, de Visconti, adaptado de Thomas Mann. E não se pode esquecer do escândalo provocado por O Porteiro da Noite, de Liliana Cavani, sobre a ligação sadomasoquista de um oficial nazista e uma prisioneira judia.

|Serviço:
Mostra Dirk Bogarde. Hoje, 16 horas, Morte em Veneza, de Luchino Visconti; 18h15, Uma Ponte Longe Demais, de Richard Attenborough; 21h15, A Noiva do Comandante, de Ralph Thomas. Amanhã, 18 horas, O Criado. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000. Grátis. Até domingo, dia 27