Família Ferrez: novas revelações

Exposição que reescreve a história da fotografia no Brasil, chega a São Paulo com imagens inéditas da primeira metade do século XX

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A partir de 25 de março, São Paulo poderá ver de perto 396 preciosas imagens fotográficas assinadas por Julio, Luciano e Gilberto Ferrez, respectivamente filhos e neto de Marc Ferrez, o maior nome da fotografia oitocentista brasileira. A exposição, que já esteve em cartaz no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, marca um novo momento da história da fotografia no Brasil, revelando imagens inéditas da primeira metade do século XX, do Rio de Janeiro, São Paulo e do Brasil; do Senegal e de diversos países europeus. Costumes, reformas urbanas radicais, modismos, monumentos, histórias de vida, religiosidade. Tudo à feição dos Ferrez, com riqueza de detalhes e enquadramento.

“Família Ferrez: novas revelações” é resultado de uma seleção de oito mil negativos, que faziam parte do acervo documental guardado por Gilberto Ferrez, incluindo álbuns e arquivos pessoais não só do próprio como de seu pai Julio, seu tio Luciano, e seu avô Marc Ferrez. Essa valiosa descoberta foi encontrada entre os documentos da família, na época da organização do acervo documental dos Ferrez, que foi doado, pelas filhas de Gilberto, para o Arquivo Nacional em outubro de 2007. 

A exposição ocupará dois andares da Galeria Olido, no centro da capital paulista, com curadoria de Júlia Peregrino e Pedro Karp Vasquez. Entre os destaques de São Paulo, estão estrada para Sorocaba (1950) e imagens do centro da cidade (1931), por Gilberto Ferrez. Imagens da Bahia, em especial o cais de Salvador; das cidades históricas de Minas Gerais, do interior do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás, vistas do Rio São Francisco (AL) e igrejas e monumentos históricos de Olinda e Recife, completam o módulo Nossa terra.

O desmonte do Morro do Castelo no Rio de Janeiro, nas lentes de Luciano, merecerá um módulo especial. Nas palavras de Pedro Karp Vasquez “as centenas de imagens de Luciano sobre a derrubada do Morro do Castelo, evidenciam todos os aspectos de seu arrasamento, uma espécie de suicídio urbanístico cujo alto custo social o Rio de Janeiro paga até hoje”. Do Rio de Janeiro serão exibidas ainda imagens da Exposição Nacional de 1922 (comemorativa do centenário da Independência), a reforma do Largo da Carioca, a construção da Cinelândia, raríssimas fotografias da Igreja de São Pedro dos Clérigos (a primeira da América Latina com traçado curvilíneo) – panorâmicas do centro tomadas de Santa Teresa, o perfil original do Mercado Municipal na Praça XV, a expansão da cidade em direção à Zona Sul, e a construção do Cinema Pathé (verdadeiro making of que mostra em detalhes todos os passos da obra), além de registros especiais do carnaval de rua e da ressaca de 21, que abalou a capital fluminense.

As fotos de Júlio, segundo Vasquez, “o cronista familiar e comentarista social dos Ferrez”, estarão no módulo intitulado Comentário Social. Ele retratou a própria família, amigos e personagens anônimos, eternizando a nostalgia e o romantismo da época, com riqueza de detalhes e de luz dignos dos mais sofisticados ensaios fotográficos da atualidade. Retratos de Julio, Luciano e Gilberto, clicados pelos três, completam a mostra, junto com parte do acervo histórico da Família Ferrez, que inclui álbuns de fotografias, diários de viagens (um dos quais de Cananéia- SP, de Gilberto Ferrez)  e correspondências entre eles, contando um pouco da história das imagens que serão apresentadas.

Júlio e Luciano Ferrez desempenharam relevante papel pioneiro na difusão do cinema no Rio de Janeiro, enquanto Gilberto Ferrez, além de dar continuidade ao negócio familiar (em associação com os primos), notadamente com o cinema Pathé, no Rio de Janeiro — até muito recentemente a mais antiga sala de cinema em funcionamento contínuo no país —, foi pioneiro entre os historiadores da fotografia no Brasil. É de sua autoria o primeiro estudo sobre o assunto, “A fotografia no Brasil e um dos mais dedicados servidores: Marc Ferrez, 1843-1923”, publicado na Revista do Patrimônio Histórico, em 1953. Muito antes, em 1905, Julio publicava “O amador photographo”. O que se ignorava até hoje é que os três também foram exímios fotógrafos, legando à posteridade um acervo de negativos que, no conjunto, excede os oito mil itens.

Julia Peregrino considera essa exposição um marco na história da fotografia brasileira. Ela enfatiza: “Esse precioso acervo inédito não se restringe aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, capital e interior. Foca também as cidades históricas mineiras, monumentos e marcos arquitetônicos goianos, paraibanos e pernambucanos, além de constituir uma instigante amostra dos costumes e do comportamento da sociedade brasileira na primeira metade do século XX. No âmbito internacional, destacam-se as capitais européias e algumas vistas e retratos da África francesa de grande interesse etnográfico. Outro aspecto interessantíssimo da exposição e a série de retratos do pioneiro Marc Ferrez na velhice, em sua derradeira viagem à Europa, feita por seus filhos, Júlio e Luciano”.

Família Ferrez: novas revelações
Patrocínio: Prefeitura de São Paulo| Secretaria Municipal de Cultura

Galeria Olido
Avenida São João, 473
Tels.: (11) 3331-8399 e 3397-0171
Inauguração: 25 de março (para convidados)
Período: de 26 de março a 23 de maio
Horário: de 3ª a sexta das 12:00h às 20:30h; sábados e  domingos, das 13h às 20.00h.
Entrada franca