Fundação Seade traça perfil das mulheres na cidade de São Paulo

As mulheres paulistanas obtiveram, nas últimas décadas do século passado, melhorias expressivas em suas condições de vida. Não obstante, esse avanço parece diluído na persistência de práticas rotineiras, discriminatórias no espaçoa público ou privado.

As paulistanas vão à luta. E já são maioria na população e no mercado de trabalho

As mulheres paulistanas, como as brasileiras, obtiveram, nas últimas décadas do século passado, melhorias expressivas em suas condições de vida, com a redução de vários indicadores sociais relacionados às desigualdades de gênero e importantes ganhos em seus direitos. Não obstante, esse avanço parece diluído na persistência de práticas rotineiras, discriminatórias tanto no espaço público como no privado.

A população feminina da capital é semelhante à de outras grandes cidades: com cerca de 5,5 milhões de mulheres, no ano 2000 excedia em 10% a masculina. Devido aos diferenciais de mortalidade entre os sexos, as mulheres vivem mais que os homens. Naquele ano, 10,6% das mulheres tinham mais de 60 anos.

Havia mais mulheres idosas nas regiões centrais, mas registrou-se tendência de aumento dessa população nas áreas periféricas da cidade.

A participação da mulher na chefia familiar também se alterou rapidamente: de 22,8%, em 1991, para 29,9%, no ano 2000. A fecundidade da mulher paulistana vem se reduzindo: a taxa passou de 2,01 para 1,93 filho por mulher, entre 2001 e 2002, ligeiramente acima da média de 1,88 do Estado. Em 2002, essas taxas caíram em todas as áreas da cidade, exceto nas subprefeituras de Guaianases, Freguesia do Ó/Brasilândia, Butantã e M´Boi Mirim, com taxas superiores a 2,1 filhos. Assim como para o total do Estado, continua elevada, na capital, a proporção de mães adolescentes, entre 15 e 19 anos, sobretudo nas regiões periféricas, onde ultrapassavam 15% do total de mães.

Na capital, a principal causa de morte entre os homens está associada a fatores externos - no triênio 1999-2001, os homicídios foram responsáveis por 39,9% das mortes masculinas, principalmente dos jovens -, enquanto as doenças cerebrovasculares são a primeira causa de morte feminina. Quanto à Aids, embora o número de casos notificados seja maior para os homens, a velocidade de crescimento dessa epidemia é maior entre as mulheres: o coeficiente de incidência quase dobrou de 1991 a 2000, passando de 10,42 para 19,19 casos por 100 mil mulheres, enquanto para os homens diminuiu de 58,57 para 43,54.

As mulheres foram as grandes beneficiárias do processo de universalização do acesso ao ensino fundamental: queda nas taxas de analfabetismo - de 8,6%, em 1991, para 5,5%, no ano 2000 - e aumento nos anos de estudo, de 6,4 para 7,6. Entretanto, esses indicadores não melhoraram na mesma velocidade para as mulheres negras, que se encontram em situação inferior em relação às não-negras.

Mais da metade das mulheres com dez anos e mais se dispunha, em 2002, a participar do mercado de trabalho. A taxa de participação feminina cresceu rapidamente: de 47,8%, em 1989, para 55,1%, em 2002. Entretanto, nesse último ano, as mulheres eram mais da metade (53,1%) dos desempregados no município, o que revela maiores obstáculos para encontrarem uma ocupação.

Esse era um problema ainda maior para as mulheres negras, já que uma em cada quatro estava procurando trabalho, com taxa de desemprego de 25,3%, também superior à dos homens negros (20,2%).

No entanto, as mulheres aumentaram sua representação entre os ocupados: de 39,8%, em 1989, para 44,7%, em 2002. Da mesma forma, as não-negras foram mais bem-sucedidas, passando de 27,6% para 30,1%, do que as negras, que foram de 12,2% para 14,6%. Apesar de o rendimento médio feminino ser, em 2002, 22,1% inferior ao masculino, a participação média dos rendimentos das mulheres nas famílias paulistanas cresceu de 27% para 36%, entre 1989 e 2002, graças, em parte, ao aumento dos rendimentos das mulheres, sobretudo nas famílias com chefia feminina.

Essas múltiplas faces da mulher paulistana podem ser mais bem identificadas em um estudo recente da Fundação Seade, que analisa as relações de gênero/cor e regiões da cidade.

Maria Cecília Comegno Socióloga e assessora técnica da diretoria-executiva da Fundação Seade