Memórias do carnaval paulistano - pt. 3

A partir da década de 20, enquanto a burguesia se divertia nos corsos da avenida Paulista e a classe média dos bairros proletários ascendentes brincava nas sociedades carnavalescas e nos bailes de clubes e cinemas

A partir da década de 20, enquanto a burguesia se divertia nos corsos da avenida Paulista e a classe média dos bairros proletários ascendentes brincava nas sociedades carnavalescas e nos bailes de clubes e cinemas, nas áreas pobres da cidade, principalmente no Bexiga, começava a proliferação de cordões e blocos. Agremiações como Os Desprezados, Geraldinos, Baianas Paulistas, Campos Elíseos e, claro, Camisa Verde e Branco, saiam pelas principais ruas da cidade e disputavam entre si para ver quem entusiasmava mais os paulistanos. Esse clima de competição levou o prefeito Antonio Carlos Assunção a promover, em 1934, o primeiro desfile carnavalesco oficial da cidade.

Três anos depois, a negra Deolinda Madre, chamada nas rodas de samba de Madrinha Eunice, dá novo rumo ao carnaval paulistano ao fundar a Lavapés, a primeira escola de samba da cidade de São Paulo. No entanto, durante muitos anos ainda seriam os cordões – com seu ritmo pesado marcado por bumbos e zabumbas, instrumentos de sopro e cordas, com suas cortes, balizas e capoeiras – que dominariam o carnaval da paulicéia. Foi só a partir de 1968, com a oficialização pela Prefeitura dos desfiles – realizados primeiro no vale do Anhangabaú, avenida São João, avenida Tiradentes e, finalmente, no sambódromo – que eles começariam a ser trocados pelas escolas de samba na preferência dos moradores da cidade.

Com a oficialização dos desfiles, a disputa se acirrou entre as escolas de samba, ameaçando deixar em segundo plano a rivalidade entre os cordões. Para se inserir na nova realidade, Camisa Verde e Branco e Vai Vai se tornaram escolas, adaptando suas baterias e estilo de organização às normas do desfile. Quem não se adaptou, como o Fio de Ouro, cordão que dividia com a Vai Vai a torcida dos moradores do Bexiga, terminou desaparecendo. Com a chegada desses grupos mais tradicionais e organizados, o carnaval paulistano tomou novo impulso e, especialmente a partir dos anos 80, deu um salto de qualidade que o coloca hoje entre os maiores espetáculos da Terra.


Crédito do texto: (Eduardo Bahia e Juliana Napolitano)

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